Somente Juan Guadó acredita que é o presidente da Venezuela, sem voto, legitimidade e poder. Nem os Estados Unidos acreditam nisso, mas sabem que é preciso ter um fantoche. Guaidó se autoproclamou presidente (?!) e escolheu sábado passado, dia 23 de fevereiro, como o Dia D para romper a fronteira e permitir a entrada dos americanos no território venezuelano a pretexto de ajuda humanitária. O objetivo todos nós sabemos.
Dia 23 se tornou emblemático por outras razões. Guaidó vestiu a fantasia de presidente interino, montou corpo diplomático (a exemplo de María Teresa Belandria, a "embaixadora" no Brasil, que não pode adentrar a embaixada da Venezuela) e, por prerrogativa, teria a autoridade para convocar novas eleições um mês após a autoproclamação. O mês passou e não conseguiu. Foi para a Colômbia e não pode pisar no país do qual diz presidir.
Num avião da Força Aérea Colombiana chegou na madrugada desta quinta-feira ao Brasil para encontro com o presidente Jair Bolsonaro. Não será recebido com honras de chefe de Estado e a agenda no Planalto define a reunião como encontro pessoal do líder brasileiro. Na prática, não é encontro de chefes de Estado.
O Guaidó veio pedir apoio ao seu delírio alimentado pelos yankees. Confabular sobre como dar o golpe no presidente da Venezuela. E como golpear o povo venezuelano, visto que derrubar Maduro significa entregar a riqueza do país vizinho numa bandeja de prata tal qual o Brasil fez com o pré-sal.
O Brasil vai a reboque dos americanos na disputa que não nos interessa. E entre os loucos que simularam reconhecimento a Guaidó, o vice-presidente Hamilton Mourão é o mais sensato. Puxou a coleira do ministro Ernesto Araújo, que queria ver sangue. Também não conseguiu.
Quem quer sangue é o Guaidó, porque os EUA querem sangue. Tanto um quanto o outro perderam a batalha do dia 23, porque Maduro detém o poder, é o legítimo presidente.
O Brasil reconhece Maduro nas atitudes. Na forma como recepciona o lunático e oportunista Guaidó e no trato do governador de Roraima, Antonio Denarium - bolsonarista com carteirinha do PSL e tudo -, e do prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato (PRB), com autoridades venezuelanas do governo Maduro.
Maduro enviou os ministros Aristóbulo Izturis, da Educação, Luis Alberto Medina, da Alimentação, Aloa Nuñes, dos Povos Indígenas, e os governadores Justo Nogueira, do estado Bolívar, e Yelitza Santaella, do estado Monagas, para conversar com os políticos brasileiros. O tema: negociar a compra de alimentos e medicamentos e a reabertura da fronteira do Brasil com a Venezuela. Até onde se sabe, Guaidó não foi convocado a participar.
Ou seja, o Brasil que disse não reconhecer o governo de Maduro, recorreu ao próprio em busca de solução diplomática, mesmo que em parte. O não-reconhecimento anunciado pelo país, a pedido dos EUA, não passou de bravata, fanfarronada de Ernesto Araújo.
Guaidó vê arrefecer sua brincadeira diante dos EUA que esperavam dos apoiadores na América do Sul, ação extrema contra a Venezuela. O Grupo de Lima não aceitou brigar com Maduro e levou bronca dos americanos: "Irresponsáveis!".
Maduro prometeu lutar até com as unhas, se preciso, em prol da Venezuela. Ele tem poder e coragem para isso. Guaidó, o autoproclamado e autoreconhecido "presidente", não.