19 MAR 2024 | ATUALIZADO 22:55
MOSSORÓ
Thífanny Alves (HiperLAB UERN) - Especial para o Mossoró Hoje
24/03/2019 09:01
Atualizado
24/03/2019 09:39

Caern tem perda de mais de 5 milhões/mês com vazamentos e ligações clandestinas em Mossoró

Somente em 2018, índice de perda mensal registrado pela companhia chegou a 58% na cidade. Esta é a primeira reportagem do projeto HiperLab, do curso de Jornalismo da UERN, em parceria com o MOSSORÓ HOJE, para estimular estudantes à produção de material jornalísticos e utilização de novos formatos de notícias
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De toda a água distribuída pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) em suas mais de 74 mil linhas ativas em Mossoró, mais da metade (58%) é perdida através de vazamentos e desvios clandestinos, todos os meses. Esse total chega a 1.340.000m³/mês, o equivalente à água armazenada em 134 mil caminhões pipas com capacidade para 10 mil litros, cada um. Uma perda financeira mensal de mais de R$ 5 milhões, conforme informações da companhia.

O cálculo é feito considerando o volume produzido pela companhia (2.300.000m³/mês), menos o volume de consumo regular registrado pela companhia junto aos usuários (960.000m³/mês).

Segundo Márcio Bruno Dantas, Gerente Regional Oeste da Caern, do volume de perda registrado, entre 10 e 15% são provocados por vazamentos nas encanações. O restante (de 42 a 48%) são perdas comerciais, que correspondem a desvios clandestinos, tanto de linhas ativas como inativas.

No caso do desperdício por vazamentos, tubulações rompidas são os maiores problemas, seja por intervenções externas ou ressecamento. Por dia são registradas em média 8 ocorrências de vazamentos na rede de abastecimento, resultando numa demanda mensal de 250 chamadas.

A estudante de arquitetura, Isabelle Martins, mora no bairro Alto do Sumaré, e passou recentemente por problemas causados pela falta de água., como o aumento em sua conta. De acordo com Isabelle, por duas vezes ela acionou a companhia para reparação de vazamentos na rua de sua casa. Segundo ela, a companhia informou que a situação era normal. Somente após seis dias do início do problema, o conserto foi realizado. A estudante se queixa do atendimento da empresa e o qualifica como “péssimo” devido à demora. Ela afirma que usa água de forma consciente, e sempre evita desperdícios. “Acredito que muitas pessoas ainda não têm consciência ou não conseguem ver o tamanho do problema [...], na minha rua [..] muitos falam que não ligam, que por eles podem deixar vazar, que não sai do bolso deles, e acreditam que nunca vai acabar, acho um absurdo porque eles não pensam no futuro dos seus filhos”, disse.

Os desvios ilegais, popularmente conhecidos como “gatos”, representam os maiores índices de perdas. O gerente regional explica que eles acontecem de duas formas. Uma delas é por meio de ligações ativas, quando o cliente tem vínculo com a empresa, e clandestinamente interfere na rede, desviando o percurso da água, e impedindo que o consumo real seja registrado pelo hidrômetro. A outra é quando o cliente tem o fornecimento de água cortado, mas mantém o abastecimento através de um “gato”. Ambos os casos são considerados crimes, passíveis de multa e prisão.

Sobre as atitudes e medidas da Caern em relação ao alto índice de perda de água, Márcio explica que a companhia se preocupa com a manutenção dos equipamentos e encanamentos. Uma equipe de operação faz o controle interno através de ações, como o monitoramento da pressão da água, e a identificação das causas de ressecamentos, realizando reparos e substituições quando necessário.

Os vazamentos em redes de maior diâmetro que tenham grande fluxo de trânsito ou os que provocam desabastecimento são priorizados e resolvidos com mais rapidez. Nos demais casos, o atendimento pode demorar de 3 a 5 dias.

A fiscalização sobre os “gatos” é mais complicada. “Os mais fáceis de fiscalizar são as das contas inativas, através do monitoramento do fluxo de água das casas vizinhas e também através de visitas periódicas. Como temos registro dessas ligações, acaba sendo mais fácil de identificar possíveis pontos de desvios”, explicou.

Em Mossoró há um núcleo de fiscalização que é responsável por verificar constantemente esses casos. No que se refere às ligações ativas, a situação é diferente. “A maior parte desses desvios são em regiões periféricas, e sem o apoio da polícia, fica inviável a fiscalização, inclusive por questões de segurança”, descreveu.

Não é possível fazer um mapeamento de possíveis pontos, e o reconhecimento da infração ocorre, na maioria das vezes, por meio de denúncias, dependendo principalmente da consciência dos próprios cidadãos. As denúncias podem ser feitas através do canal de comunicação 115, pelo aplicativo Caern Mobile, ou no escritório de atendimento, presencialmente.

IMPACTO AMBIENTAL

Valdecir Junior, Gestor Ambiental e técnico em Saneamento Básico, alerta que os impactos ambientais causados pela perda de água são consideráveis. Os vazamentos podem causar inundações, prejudicando moradores. Outro fator é que esse possível acúmulo da água pode contribuir também com a transmissão de doenças, como a dengue e a leptospirose.

Além disso, os impactos também são sociais, já que como consequência dos “gatos”, muitas pessoas deixam de receber água e posteriormente poderão pagar taxas maiores devida a escassez de água. “É um dado realmente preocupante e temos (população) que ter consciência de agir da forma correta e também cobrar da caern mais medidas fiscalizadoras” concluiu.

*A agência HiperLAB Uern é um ação do Laboratório de Narrativas Hipermídia (HiperLAB), projeto de extensão do curso de Jornalismo da Uern, coordenado pelo professor Ms. Esdras Marchezan


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