Pau dos Ferros (RN) é um município de referência no alto oeste potiguar. Pujante nos setores de comércio e serviço, na promoção de eventos de esportes, cultura e lazer (o que inclui a FINECAP), de população escolarizada e considerada uma cidade universitária por abrigar diversas instituições de ensino superior (IFRN, UERN e UFERSA). Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021), a cidade possui uma área de 259,959km², uma população estimada em 30.802 pessoas numa densidade demográfica de 106,73hab/km² (IBGE, 2010), e, de clima semiárido com temperaturas elevadas durante todo o ano todo (Costa, 2007). Em dezembro de 2020 a estação meteorológica da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) registrou uma máxima de 39,9º.
O que me motivou a escrever este artigo foi o relato de um morador da cidade que reclamava do calor que fazia num desses dias de outubro. Quando perguntei o que ele pensava sobre o asfalto que era aplicado à frente do comércio onde trabalhava, e por que não dizer à porta, já que beira subir à calçada, ele afirmou que a cidade estava ficando bonita e que preferia viver num local asfaltado e quente, a destruir o seu veículo por transitar em ruas de calçamento. Calei-me naquele instante por respeito a sua opinião meu caro desconhecido, mas sinto informar que seu veículo continuará a sofrer danos uma vez que não identificamos as lombadas no asfalto por estarem camufladas de preto, e muito menos há sinalização de trânsito, seja vertical ou horizontal. Mas agora é minha vez de opinar. Desde junho de 2022 ruas e avenidas de grande fluxo no município de Pau dos Ferros vem recebendo pavimentação asfáltica. As “melhorias” propostas com o recapeamento e a pavimentação de ruas, avenidas e travessas citadas no site da prefeitura de Pau dos Ferros , não fazem referência ao efeito colateral do “progresso”, já que a correlação entre manta asfáltica e o aquecimento da área urbana foi esquecida, o que seria surpreendente se tal efeito tivesse sido citado. Contudo, para o nosso bem, diversos estudos fazem esta relação causal.
A literatura concorda que as propriedades termofísicas do pavimento de armazenar energia térmica e liberar calor, principalmente a noite, provocam em cidades de clima tropical, com alta densidade populacional e baixa densidade de áreas verdes um processo de formação das ilhas de calor, que trazem como consequência desconforto térmico, problemas de saúde, elevação do consumo de energia para refrigeração dos ambientes (Callejas, Dutante & Rosseti, 2015). É nisso que Pau dos Ferros está se transformando, não na ilha da fantasia, aquele seriado de sucesso dos anos 1970 e 1980 produzido por Aaron Spelling onde os desejos dos visitantes se tornavam realidade, mas numa ilha de calor cujo maior desejo é de estar num ambiente refrigerado. Bem vindos à ilha de Pau dos Ferros!
Mas a crítica pela crítica não constrói, com efeito, sugiro que para cada metro quadrado de asfalto aplicado na cidade plante-se uma árvore. Além de reduzir a incidência da radiação solar sobre o asfalto, as árvores são condicionadores térmicos baratos e eficientes, pois umidificam o ambiente. Conforme Schanzer (2003), diversos estudos já demonstraram que as temperaturas superficiais do ar à sobra são mais baixas se comparada às temperaturas médias registradas em zonas mais densamente edificadas. Assim, os comerciantes, os transeuntes e os moradores das ruas asfaltadas da cidade agradecerão essa atitude positiva.
Anderson Queiroz Lemos, professor adjunto da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Campus de Pau dos Ferros.
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1 LEMOS, A. Q. . Da horta para a mesa. Diário do Nordeste, OPINIÃO, 12 maio 2008.
2 COSTA, Márcio (4 de março de 2007). «Mossoró, Pau dos Ferros e Caicó são as cidades mais quentes do RN». O Mossoroense. Consultado em 14 de agosto de 2014. Arquivado do original em 3 de setembro
de 2014.
3 Hobolink: Ufersa Pau dos Ferros». Consultado em 4 de fevereiro de 2022
4 Callejas I. J., Durante L. C., Rosseti K. A. C., Contribuição da Pavimentação Asfáltica para o
Aquecimento de Áreas Urbanas. E&S- Engineering and Science, (2015), 3(1): 64-72.
5 https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/3203/000383518.pdf?sequence=1