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SAÚDE
Por Valéria Lima
23/11/2015 13:32
Atualizado
13/12/2018 00:44

Dormia no tatame , diz recordista no UFC lembrando início da carreira

Gleison Tibau, em entrevista ao MOSSORO HOJE, conta como tudo começou e as dificuldades que encontrou até chegar ao topo dos lutadores de MMA. ?Cada luta é a luta da minha vida?, diz
Reprodução/MMA

Natural de Mossoró/RN, mas criado desde pequeno no município de Tibau/RN, aos 13 anos, Janigleison Herculano Alves, ou Gleison Tibau, como prefere ser chamado, descobriu através de um filme, a paixão pelas artes marciais – paixão esta, que o levou além do que podia imaginar.

Filho de padeiro e dona de casa na pacata cidade de Tibau, Gleison teve que buscar sozinho, seus próprios meios para ingressar no mundo das artes marciais. O lutador abriu as portas de sua casa ao MOSSORÓ HOJE e revelou dados da sua trajetória de Tibau ao octógono do UFC.

“Desde o início foram contra, meus pais, os colegas de infância, realmente, na época ninguém conhecia o esporte, não era tão divulgado como hoje, ninguém tinha noção de como era, eu lembro que foi barra, foi bem pesado, porque não tinha muito valor, mas eu estava muito focado, e muito dedicado, então fui contra todos da família, em busca do meu sonho”, explica Gleison Tibau, que recentemente se consagrou recordista de lutas no UFC.

Com 15 anos, Gleison estudava pela manhã, e todas as tardes pegava o ônibus dos estudantes, da Prefeitura de Tibau, e vinha para Mossoró, onde treinava. Na época, como não tinha apoio familiar, nem financeiro, ele trabalhava como garçom nas barracas de praia em Tibau, para custear os treinos na academia.

Em 1999, Gleison fez sua primeira luta profissional de vale-tudo, em Mossoró. Foi aí que, Gleison começou a chamar a atenção dos treinadores. “Meu treinador me disse: ‘Você tem talento, você tem dom para luta, e se é isso que você quer mesmo, você tem que vir para cá para se dedicar mais aos treinos’. Aí não pensei duas vezes, era meu sonho”, revelou.

Ainda sem incentivo, mas com muita força de vontade, Gleison decidiu se mudar para Mossoró. Foi aí que as dificuldades aumentaram. Ele conta que chegou a morar na academia, e dormir no tatame.

“Eu até tomava café no tatame. Na época, a galera que treinava comigo trazia comida, eu acordava não tinha dinheiro, mas meus colegas de treino me ajudavam, pois sabiam da minha história, que eu morava longe da família e tinha escolhido viver do esporte”, detalhou o lutador sempre com um sorriso no rosto.

Após, esse período, Tibau começou a lutar em diversos campeonatos e tornava-se destaque nas competições. “De Mossoró fui pra Natal. E de Natal comecei a lutar nas capitais do Nordeste, Fortaleza, Recife e outras. Fui tendo um bom desempenho nas competições, e isso me levou ao Rio de Janeiro, lá eu tive mais estrutura para treinar e tudo. De lá fui pra São Paulo, para o Sul do país”.

Com maior visibilidade no cenário de artes marciais do país, Gleison foi convidado a participar do Meca, maior evento de luta do país na época. “Fiz boas lutas e fui ficando conhecido no mundo da luta internacionalmente, e daí foram aparecendo as oportunidades”.

Em 2002, Tibau fez sua primeira luta internacional, que foi no Japão. De lá, seguiu para lutar na Europa, voltou ao Rio e Natal.

“Chegou um período, que não aparecia mais luta para mim aqui no Brasil, aí resolvi ligar para a American Top Theam, um dos maiores times de lutadores de MMA do mundo, liguei pedindo uma oportunidade para mostrar o meu trabalho”, afirma o lutador.

O pedido de Gleison Tibau foi atendido. O diretor do ATT deu uma oportunidade ao potiguar no time, e dentro de uma semana, Gleison estava nos EUA.

Ele explica que “Queria lutar nos grandes eventos, no UFC, Pride, fui sem nem saber falar inglês, sem ter noção de como era os EUA, nem nada, isso na raça, vontade e coragem”, afirma.

Com três semanas de treino no American Top Theam chegou o momento que Gleison ansiosamente esperava, a oportunidade de lutar pelo maior evento de lutas marciais do planeta: o Ultimate Fighting Championship (UFC).

UFC

“Meu maior sonho era entrar no UFC, qualquer atleta quer estar lá, é muito gratificante saber que você está entre os melhores naquilo que você faz”, é a resposta rápida do lutador potiguar, quando se fala em UFC. No último dia 18 de novembro, o lutador completou nove anos de UFC, e se consagrou em sua última luta, no dia 7, como recodista brasileiro de lutas na competição.

Mas, ele esclarece que o caminho nunca foi fácil: “As oportunidades não vieram até mim, eu fui buscando, criando as oportunidades. Não tive oportunidade de ter um empresário, eu tive que buscar sozinho”.

Em sua primeira luta na competição, Gleison Tibau se disse, “anestesiado” – com aquilo que parecia tão longe da sua realidade.

“Na minha primeira luta, que foi em Los Angeles, eu fiquei chocado, a adrenalina me consumiu, era uma estrutura muito grande, no primeiro round eu fui bem, mas no segundo não. Mas, a organização chegou a mim, e disse “A gente viu que você é muito bom, mas que sentiu uma pressão muito grande. E você terá outra oportunidade de lutar”. Quando voltei a lutar, trouxe bons resultados”, relata o lutador.

Sobre a força de vontade do lutador, ele explica que “Toda luta a gente entra para ganhar, a gente se prepara, a derrota acontece porque tem que acontecer. Tem luta que você sai feliz porque rendeu bem, e em outras não”.

No entanto, ele enfatiza: “Considero ter uma carreira muito sólida. Nunca fui assim de estar lá embaixo e depois lá emcima. Sempre fui me mantendo e formando bagagem. Não me considero um atleta de momento, devido minha dedicação”.

Dificuldades

O lutador potiguar lembra que desde o início as dificuldades foram muitas, principalmente por sair de uma cidade onde a luta não era conhecida, e por lutar contra a vontade da família.

“Eu lembro que cheguei a chorar com as dificuldades, mas desistir nunca passou pela minha cabeça, nunca pensei em voltar atrás, acho que essas dificuldades serviram para me fortalecer. Eu não tinha noção de onde eu ia chegar, mas eu sabia que um dia eu ia viver do esporte”, relatou o lutador.

Gleison conta que tudo melhorou quando seus pais começaram a entender que era da luta que ele iria viver. “Eles entenderam que o esporte não é algo inútil como pensavam, isso veio depois de um tempo e depois de muito trabalho, isso me mostrou que quando você tem um objetivo você alcança”, explicou ele. 

Atualmente, o recordista de lutas no UFC, já lutou com boa parte dos Tops da sua categoria, que é a mais disputada na competição. “Cada luta é a luta da sua vida. Cada atleta tem que pensar assim ao ir lutar, cada luta é a luta da sua vida, em toda luta você tem que se dedicar como se fosse a primeira” destacou.

Exemplo

Para o lutador, atualmente, o cenário de artes marciais no Brasil é bem melhor do que quando ele começou no esporte “Hoje chegou aqui na cidade e vejo vários meninos praticando, mais academias, mais oportunidades, bem diferente do que tinha na minha época”.

Ele ressalta que o patrocínio não é uma questão fácil. Mas, que isso não deve ser um obstáculo para continuar no esporte. “Tem que ser muito dedicado, não tem como ser atleta e outra coisa, a gente vive para isso”, enfatiza o lutador.

Além do mais, atualmente, quem quer entrar neste esporte, não vai passar pelas dificuldades que passei porque as portas estão mais abertas, mais eventos, times grandes, está em outro giro o esporte, para quem quer seguir carreira.

Orgulhoso, ele confessa “Um jovem que saiu de Tibau, um lugar onde ninguém sabia o que era a luta, e chegar ao UFC, é muito gratificante”.

Para os jovens que querem seguir carreira nas artes marciais, ele dá a dica: o MMA é a melhor modalidade. “É a melhor modalidade para se viver da luta, se eles têm talento e tem vontade, oportunidade vai ter”, finaliza.

O lutador confessa ainda que pretende trazer benefícios para o município, ajudar seus conterrâneos, gerando mais empregos. Sobre o assunto, ele não dá mais detalhes.

Segundo ele, “eu vejo que a partir do meu trabalho despertou um interesse por parte dos jovens aqui na cidade, na minha época ninguém tinha noção de artes marciais, e hoje chego aqui na cidade vejo os jovens conhecendo, praticando o esporte, fico muito feliz”.

Gleison “Tibau”

O lutador conta que apesar de ter nascido em Mossoró, sente-se natural de Tibau, que foi onde passei toda minha infância e adolescência. Tenho orgulho de levar o nome da minha cidade em meu nome, diz Gleison.

“Tudo começou com uma brincadeira dos colegas da academia lá em Mossoró, quando eu chegava, eles diziam, lá vem o menino de Tibau, foi daí que surgiu. Já na minha primeira luta, usei o nome Tibau para ser apresentado. Fora do país, as pessoas pensam que é meu sobrenome mesmo, aí eu explico que é a minha cidade, de onde e vim”, comenta o lutador.

Fora do Octógono
Gleison se define como uma pessoa bastante tranquila. “Gosto de estar com os amigos, gosto de aproveitar cada minuto, e aproveitar os momentos”.

Como não poderia ser diferente, seu lugar preferido no Brasil é a praia e o alpendre da casa de seus pais, em Tibau/RN. “Quando venho para o Brasil, corro para cá, vou para os outros estados só a trabalho, agora para descansar e relaxar venho pra Tibau, apesar de que aqui, sempre tenho muita coisa para fazer”, finaliza.

Gleison é casado e tem dois filhos. Uma menina que mora com ele em Miami e um menino que mora em Recife.

Em seus últimos dias em Tibau/RN, Gleison se prepara para voltar a rotina de treinos em Miami, e focar na preparação para as próximas lutas. Dono de números recordes no UFC, o lutador ainda tem muitos rounds pela frente. Afinal, é como ele mesmo disse: Cada luta é como se fosse a primeira.

(Fotos: Reprodução/MMA e Página Oficial do Atleta)

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