Pelo período superior a um mês, nos meses de outubro e novembro, um artigo do Grupo de Magnetismo e Materiais Magnéticos da UFRN se manteve em destaque na seção Trending on PRB da revista internacional Physical Review B, da Sociedade Americana de Física (em inglês, American Physical Society), considerado um dos maiores e mais abrangentes periódicos internacionais especializados em matéria condensada e física de materiais.
A seção tem uma característica singular: indica, segundo a publicação, estudos que estão na vanguarda do conhecimento produzido dentro daquela área. Atualmente, o artigo mantém o status de um dos mais acessados dentro do site da PRB.
“Sinaliza que o artigo é uma nova tendência que se abre. E essa leitura é feita pelo seguinte fato: é o primeiro estudo no qual se detalha as propriedades magnéticas de nanopartículas núcleo/camada bimagnéticas, que tem um núcleo de um material magnético e uma camada externa de outro material magnético. Nós, aqui da UFRN, somos uma das lideranças mundiais na área de simulação de nano-estruturas magnéticas, detendo a expertise de calcular a composição das nanopartículas, controlada pelos tamanhos de cada material, de modo a poder combinar de forma otimizada as características dos dois materiais magnéticos, para otimizar a eficiência dessas partículas para várias aplicações importantes”, explica o professor Artur Carriço, coordenador do Grupo de Magnetismo.
A partir dessa conjunção, a eficiência aumenta, e assim, a gama de aplicações segue o mesmo caminho. A descrição das fases magnéticas de nanopartículas com estrutura núcleo- envolve o domínio de um processo de cálculo que significa controlar dezenas de milhares de variáveis ao mesmo tempo. Com um agravante: variáveis interligadas. A técnica para determinar as bases magnéticas foram desenvolvidas no próprio grupo, ao longo de mais de uma década.
As novas tecnologias baseadas neste uso combinado podem ser usadas para fazer imãs permanentes de alta eficiência, queimar tumores sólidos de câncer, guiar a medicação dentro do corpo para atingi unicamente o tecido doente ou como contraste de ressonância magnética, dentre outras aplicações.
A descrição correta da estrutura magnética é o que vai permitir desenhar partículas para uma aplicação ou outra. O artigo descreve essa estrutura interna corretamente. Definindo a proporção de volumes núcleo e camada da partícula, se pode controlar o grau de eficiência para várias aplicações,” ressaltou o professor Carriço.
Em uma linguagem técnica, o estudo, denominado Impact of core-shell dipolar interaction on magnetic phases of spherical core-shell nanoparticles (Impacto do core-shell na interação bipolar em fases magnéticas de nanopartículas esféricas core-shell, em traduação livre), é o primeiro a teorizar detalhadamente as propriedades magnéticas de nanopartículas núcleo/camada bimagnéticas.
“Essas nanopartículas são de grande interesse tecnológico para aplicações que se estendem a área como a biomédica, com especial destaque para a técnica de hipertermia magnética, que consiste na eliminação de tumores sólidos por aquecimento de nanopartículas superparamagnéticas que são injetadas e guiadas por campos magnéticos para a região do tecido doente. As nanopartículas são aquecidas rapidamente, pela aplicação de campo magnético oscilante até a temperatura de 42º C, produzindo a destruição do tecido tumoral”, exemplificou o professor Artur Carriço.
Uma outra área, esta em plena expansão no nosso estado, que pode se beneficiar é o da energia eólica. Um dos pontos de grande interesse é o desenho de novos imãs, de grande eficiência, que são usados na conversão da energia dos ventos em energia elétrica.
Neste contexto, quanto mais estável o imã, mais energia gerada. Assim, a tecnologia descrita no artigo pode ser uma ferramenta para diminuir o preço da energia eólica, um dos atuais empecilhos para a expansão desta espécie de energia renovável.
Ao falar especificamente sobre a posição alcançada pelo artigo, o professor Carriço, mesmo depois de décadas de docência e pesquisa, se emociona. “Compor um grupo eminentemente potiguar, que detém a liderança mundial da área de nano-magnetismo, cujas raízes estão aqui na nossa Universidade Federal, é motivo de orgulho, ainda mais quando levamos em consideração o fato de que quatro dos seis autores do artigo em destaque na página da APS são egressos ou estudantes do curso de Doutorado em Física da UFRN”.
O Grupo de Magnetismo e Materiais Magnéticos, que tem o professor Artur Carriço como líder, tem mais de uma década de criação e possui característica multidisciplinar e multi-institucional, com a participação de médicos, farmacêuticos e físicos, estudantes de Física da UFRN e UERN, além de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo já renderam pedidos de oito patentes.