19 ABR 2024 | ATUALIZADO 12:32
POLÍTICA
Hermes Castro
15/04/2015 12:05
Atualizado
13/12/2018 12:49

Vaccari desviou dinheiro para o PT durante dez anos, segundo investigação

Investigação do MPF e da PF aponta que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, desviou recursos para o partido durante 10 anos. Vaccari foi preso em nova etapa da Operação Lava Jato. A defesa dele vai recorrer da decisão.
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A prisão preventiva do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi motivada, de acordo com a Polícia Federal (PF) e com o Ministério Público Federal (MPF), pela existência de “indícios concretos” de reiterada prática criminosa assim como pela "comprovação clara” de crimes como lavagem de dinheiro e fraude contra o sistema financeiro. Vaccari nega as acusações.

O tesoureiro também é suspeito de operar um esquema criminoso que desviava recursos de publicidade de órgãos públicos por meio de gráficas. Segundo as investigações, essas empresas eram forçadas a emitir notas fiscais falsas para dar legalidade a pagamento de altos valores.

"Vaccari já vem sendo investigado há bastante tempo. Já temos uma denúncia de doações oficiais que, na verdade, escondem operações de lavagem de dinheiro relativas a valores da corrupção da Petrobras. Nós verificamos que ele tem uma trajetória desse tipo de operação desde 2004. Diante disso, de uma reiteração de conduta que vem desde 2004 até pelo menos 2014, nós acreditamos necessária a prisão de Vaccari", afirmou o procurador de Justiça Carlos Fernandes Santos Lima, em entrevista coletiva em Curitiba na manhã de hoje, 15.

“Verificamos o pagamento para uma gráfica com a ausência da prestação de serviço. Isso nós já temos comprovado. São notas bem genéricas, em que constam apenas serviços gráficos”, concluiu o procurador Santos Lima.

"Vaccari é mencionado por pelo menos cinco delatores como sendo intermediador [de propinas] do PT. Os fatos que são atribuídos a ele não estão só baseados nos depoimentos dos cinco delatores, mas também em material aprendido,  fornecido por esses delatores, e material apreendido no corpo da operação. A característica de reiteração criminosa dele é bem clara", acrescentou o delegado da PF Igor Romário de Paula.

Segundo o delegado e o procurador, o pedido de prisão preventiva de Vaccari foi feito à Justiça no dia 14 do mês passado. Vaccari foi preso por volta das 6h de hoje, quando saía de casa para caminhar. Ele foi levado para a carceragem da PF em Curitiba. A previsão do tesoureiro em prestar depoimento é somente amanhã, 16, informou o delegado.

Para o MPF, Vaccari exercia papel semelhante ao do doleiro Alberto Youssef, como uma espécie de operador do esquema de fraudes em contratos da Petrobras e de empresas de publicidade com órgãos públicos. “A posição de João Vaccari é muito semelhante [à do doleiro Alberto Youssef] no sentido de que ele aparece como operador, representante de um esquema político-partidário dentro da Petrobras”, disse o procurador.

“Nem uma ação penal da Justiça de São Paulo, em 2010, o intimidou em nada”, frisou o delegado. A prisão de Vaccari, acrescentou Romário de Paula, está embasada também em depoimentos de cinco presos em fases anteriores da Lava Jato e comprovação documental “clara” de práticas ilícitas.

“A prisão não ocorreu baseada apenas nas delações, mas no material fornecido por esses delatores e também em documentos apreendidos na operação. É bem claro o material apreendido contra ele. Já há indícios concretos de crimes”, disse o delegado da PF.

Vaccari foi citado como intermediário de pagamento de propinas oriundas de contratos superfaturados da Petrobras pelos ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, pelo doleiro Alberto Youssef, pelo empreiteiro Júlio Camargo, e pelo executivo da empresa Toyo Setal Augusto Mendonça.

De acordo com as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, há suspeitas de que Vaccari usava parentes para tentar acobertar transações ilícitas. “Verificamos que a família dele tem diversas operações suspeitas, com valores significativos transitando por contas bancárias de familiares”, disse o delegado.

Segundo o procurador Carlos Santos Lima, algumas transações financeiras, como a compra de um apartamento pela filha de Vaccari no valor superior a R$ 1 milhão, e movimentações bancárias superiores a R$ 300 mil nos últimos três anos na conta da mulher do tesoureiro do PT, sem comprovação da origem dos recursos, apontam o crime de lavagem de dinheiro.

Preso por volta das 6h, em São Paulo, quando se preparava para fazer uma atividade física, João Vaccari Neto deve chegar à carceragem da PF em Curitiba no início da tarde. Ainda não há previsão sobre a data em que ele prestará depoimento à Justiça.

Nova etapa da Lava Jato
A nova etapa da Operação Lava Jato também cumpriu mandado de condução coercitiva de Giselda Rose de Lima, mulher do tesoureiro. Segundo o delegado da PF, ela prestou depoimento em sua casa. "A informação que tenho é que não foi proveitoso para a investigação", revelou o delegado.

"Em relação a Giselda, nós temos dúvidas quanto a uma série de depósitos, feitos na conta dela sem a devida identificação, que corresponde a valores de mais de R$ 300 mil em três anos. Depósitos feitos em caixas eletrônicos, com valores abaixo de R$ 10 mil, que impossibilitam a identificação", explicou o procurador.

A Justiça também expediu um mandado de prisão temporária contra Marice Correia de Lima, cunhada de Vaccari, que não foi localizada até o momento. A polícia e o MPF querem a prisão dela por "operar junto com Vaccari operações de doações partidárias ilegais e operações financeiras relativas à Petrobras", explicou o delegado.

Reunião Extraordinária
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Sibá Machado (AC), informou nesta quarta-feira (15) que o partido convocou uma reunião de emergência para discutir a prisão do tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto.

O encontro entre os integrantes da cúpula petista será na sede da sigla, em São Paulo, ainda nesta quarta, segundo Machado. Ele informou, no entanto, que uma eventual decisão do partido só será tomada em reunião do diretório nacional, que já estava marcada para esta quinta (16). “Hoje [quarta] terá uma reunião de emergência, mas a deliberação mesmo é do diretório”, afirmou Sibá.

“Estou aguardando ainda a decisão da Executiva, que vai se reunir amanhã [quinta-feira], e vamos fazer uma nota pública sobre a nossa posição formal”, disse Machado.

Para o líder do PT na Câmara, a prisão de Vaccari é "política". Ele criticou as delações premiadas e disse estar "desconfiado de que existe uma orientação deliberada (...) para prejudicar o PT".

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