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MOSSORÓ
Cezar Alves, da Redação
13/06/2016 20:13
Atualizado
13/12/2018 17:45

Relatório da OAB/Mossoró mostra descaso grave de três décadas no HRTM

Médico/advogado autor da inspeção aponta que devido à falta de estrutura e recursos humanos, o índice de mortes na UTI adulto em 2015 foi de 58%; dos 390 pacientes internados 226 não resistiram
Cezar Alves

O médico e advogado Elsias Nascentes Coelho Neto, presidente da Comissão de Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Mossoró e membro de Comissão Municipal de Saúde, fez um diagnóstico preciso e assustador de como as ex-governadoras Vilma de Faria e Rosalba Ciarlini deixaram o Hospital Regional Tarcísio Maia, em Mossoró, e o esforço do atual governo Robinson Faria para fazê-lo funcionar sem estrutura e poucos recursos humanos.

No relatório, divulgado na tarde desta segunda-feira, na sede da OAB, em Mossoró, o médico advogado Elsias Nascentes Coelho Neto mostrou, em detalhes, que todos os setores do HRTM estão fora de conformidade com o que é previsto pela Legislação Brasileira para serviços de saúde. Faz duras críticas e acusações gravíssimas que resultaram, segundo o médico, em mortes de pacientes no HRTM.

Além de Elsias Nascentes Coelho Neto, também assina o relatório o presidente da OAB Mossoró, advogado e contador Francisco Canindé Maia, e o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB Mossoró, advogado Rogério Barroso de Oliveira. Os advogados elogiaram o esforço do diretor geral Jarbas Miguel Fernandes Mariano.

O resultado da inspeção da OAB Mossoró no HRTM assustou o médico Elsias Nascentes

O relatório aponta que o HRTM foi fundado em 1986, ou seja, há 30 anos. Deste tempo até os dias atuais nunca passou por uma ampliação e menos ainda de reforço no setor de recursos humanos. Apenas no governo Robinson Faria teve a ampliação de 36 leitos de enfermaria e a chegada de 36 servidores que estavam lotados no Hospital da Polícia Militar.

No mais, são apenas servidores antigos, terceirizados e cooperados, que complementam as escalas, não todas. Entre tantas informações gravíssimas, o advogado médico apontou que o índice de mortes na UTI adulto é de 58% dos pacientes que lá entram. Ele ressalta que em 2015 foram internados 390 pacientes na UTI do HRTM e 226 morreram.

Esta taxa de mortalidade, segundo Elsias Nascentes, é o dobro da taxa de mortalidade do pior hospital do mundo (não citou qual). Aponta que o percentual aceitável pelas autoridades internacionais é 5,4%. No caso do pior hospital, o médico advogado destacou que é 33%. “O HRTM é quase o dobro deste número. É assustador”, destaca Elsias Nascentes.

Para Elsias Nascentes, o índice ‘absurdo’ de mortes na UTI do HRTM é consequência de uma série de fatores, como falta de medicamentos, médicos, falta de desinfecção adequada, enfim, principalmente falta de respiradores. Citou que, em 2015, havia 9 leitos ocupados na UTI e apenas 4 respiradores. Segundo ele, isto causou muitas mortes.

Ainda conforme Elsias Nascentes, existem médicos de outras cidades que estão usando o HRTM para fins políticos eleitoreiros. “Tem médico que vem atender no HRTM e chega ônibus da cidade de dele de pacientes para fazer atendimentos que, por lei, deveriam ser feito na cidade dele, custeado pela prefeitura municipal. Estes gestores compram ambulâncias e jogam os pacientes inclusive de cidades do Ceará até para arrancar unha encravada no HRTM ,denuncia.

Francisco Canindé Maia, presidente da OAB Mossoró/RN, diz que o HRTM fecha em 4 anos se não for feito nada.

E a situação de caos instalada no HRTM, que segundo Elsias Nascentes ocasionou muitas mortes, foi em função do fato de que nas três décadas de existência o HRTM não recebeu os investimentos devidos na ampliação da estrutura física e menos ainda em novos profissionais, principalmente nos governos de Garibaldi Alves e Vilma de Faria.

Já no governo Rosalba Ciarlini chegou a estado de calamidade pública, decretado pelo Estado. Com este decreto, foi contratado, sem licitação, uma empresa por mais de R$ 4 milhões para ampliar UTI, clínica médica e outros setores do HRTM em 18 meses. As obras ficaram na metade.  Há poucas semanas, a Maçonaria terminou a construção de 36 novos leitos de clínica médica e o Governo do Estado transferiu 36 servidores do Hospital da PM para o HRTM.

Outro lado

“Não é objetivo nosso tentar tapar o sol com uma peneira. Eu tenho 1 ano e 3 meses na direção geral do HRTM. Mas tenho 17 anos que sou servidor daquela casa de saúde. Os pontos que o dr. Elsias Nascentes colocaram, alguns nós já conhecemos e outros não. Os que nós conhecemos, estamos trabalhando diuturnamente para superá-los”, declara Jarbas Mariano, que estava presente na divulgação do relatório no auditório da OAB/Mossoró.

Mariano cita diretamente o caso dos respiradores. Confirmou que realmente só havia 7 respiradores no HRTM, sendo que 4 na UTI e outros 3 em outros setores do HRTM com pacientes. Explicou que foi feito um esforço fora do normal e conseguiu recuperar 4 e comprar outros 10. Atualmente são 21 respiradores no HRTM. A UTI tem um reserva.

Jarbas Mariano disse que desconhece totalmente a denúncia de que médicos estão usando o HRTM para fins políticos. Disse que a questão é muito grave e vai apurar. Ele admite, no entanto, que o fluxo de ambulâncias trazendo pacientes de outras cidades, inclusive Apodi, Caraúbas, Assu e Pau dos Ferros, que tem hospitais regionais, é muito grande.

Diretor geral do HRTM, médico Jarbas Mariano, disse que vai analisar o que existe fundamentado no relatório e adotar as devidas providências

 

Obs: Esta é a primeira parte de uma série de reportagens sobre o HRTM, tendo como base o relatório de inspeção do presidente da Comissão de Saúde da OAB/Mossoró/RN

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