“O que eu vou fazer é sem interesse de nada. Puramente de coração. Não quero nada em troca a não ser a benção de Deus e de minha mãe que era devota de Santa Luzia”. As palavras firmes foram ditas por Antônio Pacheco. O doador do Santuário de Santa Luzia. Doador? Mas como assim? Como alguém pode doar para uma cidade um projeto com previsão de custo de mais de R$ 15 milhões? Numa sociedade em que muito se quer e pouco se doa, a notícia é um susto.
Muitos duvidaram. Outros fizeram chacota zombando do “milagre” que se noticia em Mossoró. Chamado de investidor pela equipe do Mossoró Hoje, a interferência de Pacheco veio de imediato: “Não tenho o direito de investir em Santa Luzia. Tenho o dever de agradecer pela oportunidade de realizar uma obra que não é minha, é de Deus”.
Pesente na reunião da noite deste sábado (25), Padre Flávio Augusto também mencionou algumas vezes a palavra milagre, enquanto ouvia atento a todas as explicações. Ele era um dos representantes da Igreja, ao lado do Padre Charles Lamartine e de outros integrantes da Comissão de construção do projeto.
“A presença do Antônio Pacheco na nossa cidade é mais importante. Porque mostra a seriedade e compromisso”, afirmou Padre Flávio, que assim como o prefeito Francisco José Júnior teve pela primeira vez contato com o homem do Milagre.
“Trabalhamos nesse sonho desde os primeiros dias de mandato. Algo no meu coraçaõ dizia que ia dar certo. O desafio era construir a forma de fazer acontecer. Resolvemos trabalhar nisso. Economia em crise, potencial econômico de Mossoró em transformação desde que a Petrobras começou a sofrer os primeiros abalos em terras potiguares. Foi aí que vimos no Turismo Religioso fortalecido por 200 anos de fé e amor por Santa Luzia um novo caminho para Mossoró. Trabalhamos. Criamos as condições e Deus abriu as portas”, declarou o prefeito.
Os representantes da igreja, com muita atenção e responsabilidade, queriam saber quanto estava sendo doado e como iria funcionar o trâmite da doação e estavam preocupados também com um segundo ponto: Fazer a população entender. Afinal o Santuário de Santa Luzia está sendo visto como um presente dos Céus para a cidade. “O Santuário vai reforçar o que já existe”, disse padre Flávio.
O milagre
Após concluído o projeto arquitetônico do Santuário de Santa Luzia, que deverá começar a ser erguido daqui a pouco mais de um mês, equipes da Prefeitura divulgaram o projeto e seu objetivo. A beleza do que foi idealizado atraiu inúmeros interessados na parceria público-privada que tinha um objetivo desafiador: Não usar qualquer recurso do município por causa da crise.
“Sentíamos no nosso coração que ia dar certo. Mas jamais imaginamos algo como o que aconteceu. Quando a notícia chegou tive a certeza de que era mais uma vez a ação de Deus transformando a história do nosso povo, como tem feito ao longo da história de Mossoró ”, relata o prefeito Francisco José Júnior.
Em meio às divulgações, um amigo de Pacheco, também pernambucano como o empresário, viu o projeto e acreditou na busca de investidores. Procurou o amigo que tem negócios e acesso a outras pessoas, também com potencial para investir. Esse amigo é o Coronel Antônio Carlos.
“Eu mesmo não acreditei. Quando falei em investimento e disse que era para construção e lucro com Santuário de Santa Luzia, o Pacheco não me deixou continuar. Ao ouvir o nome da Santa, sem ter visto o projeto, sem saber o custo, sem saber de nada ele decidiu. Se for para lucrar com a Santa não irei participar, quero doar o Santuário”, lembra o Coronel, que diz que não esperava em hipótese alguma a reação do amigo.
Neste domingo será assinado o termo de Cooperação e o lançamento da pedra fundamental do Santuário de Santa Luzia na Serra Mossoró. “O aporte financeiro será feito imediatamente após autorizado o início das obras”, afirma Pacheco. O doador é que será responsável pela busca e contratação da empresa que irá executar o projeto. A busca será por uma empresa que possua a tecnologia necessária e que não tenha vínculos com o poder público local.
"Eu acredito em milagre", diz Pacheco
O homem que começou a trabalhar no balcão da bodega do pai aos seis anos de idade tem modos simples. Contou ao MH com tranquilidade sobre sua trajetória que já o colocou aos 12 anos para “andar sozinho”, como citou essa fase em que já passou a ser também um dos responsáveis pela família.
Entrou aos 17 anos para a faculdade de Economia na Universidade Católica em Recife, mas deixou o curso no quarto período quando o pai decidiu fechar o negócio e lhe propôs viver com uma espécie de mesada. Tinha 20 anos. Vendia açúcar e comprava. Fez o negócio prosperar. Foi enganado. Quebrou e chegou ao fundo do poço. “Numa fase difícil da minha vida Deus apertou o parafuso. Quando Ele viu que eu não ia folgar na minha fé, foi desapertando o parafuso”, sorri relembrando.
Perguntado se acreditava em milagres, Pacheco foi taxativo. “Acredito em milagres e tenho testemunhos. Já tive livramentos que a vida não explica em situações de risco de morte que seriam impossíveis entender e explicar”, disse relembrando sua gratidão a Deus. Apesar de reconhecer que o homem não faz os milagres, Pacheco reconhece que pode ser o homem o instrumento de Deus para isso. Então o MH perguntou se ele se sentia, no caso do Santuário de Santa Luzia, um instrumento para o milagre de Deus. “Sim. Acredito”.
O empresário, que demonstrou fé imensa e que gosta de desafios, fará a doação através da sua empresa. Com escritório que trabalha com Comodities no Mato Grosso no setor de exportação de soja, milho e açúcar, também faz investimentos nas áreas de melhoria energética, através “da energia limpa possível de se extrair do próprio lixo”.