Aqui nas imediações de minha casa, no Abolição II, zona oeste de Mossoró/RN, um gavião pequeno (ave de rapina) vinha numa disparada da molesta, pega num pega pega num pega um papacu (pássaro pequeno e verde – parece com um periquito). O gavião correndo atrás da refeição diária, dentro da cadeia alimentar dele, e o papacu, coitado, tentando sobreviver.
O papacu, em desespero, deu tantas voltas no céu, entre postes, castanhola, sempre verde, rasantes nos telhados das casas, entre os fios elétricos, tentando se livrar do gavião, que todos já estavam torcendo pela escapada do mais fraco. Seria digno de uma grande escapada. Porém, para tanto, era preciso o já exausto papacu fazer uma grande manobra excepcional.
E foi o que ele tentou. Em desespero para escapar de seu predador, o papacu fez uma manobra um tanto inusitada. Passando entre pergolados da área de sol de minha casa, em seguida por uma pequena abertura na porta de vidro como um foguete e caiu agonizando no meio do quarto da minha filha, não sei se de cansado ou em função do ferimento no peito. Caiu e ficou parado, como se estivesse morto.
O gavião do jeito que vinha, virou na vertical (parecia aquelas naves dos filmes de guerras nas estrelas entrando na Lua Negra), passou entre os pergolados e a pequena abertura da janela de vidro numa velocidade que só se comparava a Dragão do Riacho passando entre os becos do bairro Santo Antônio para não ser preso pelo delegado Roberto de Eduardo, e os agentes De Sousa, Mário Zan, Terin e Oliveira, da Defur, em meados de 1992.
Dentro do quarto, o gavião tentou pegar o papacu, que estava caído durinho, no meio do quarto. Era como se tivesse se entregado ou fingindo estar morto para o seu predador o deixa-lo. A minha filha Maria Adele, de 5 anos, entrou em desespero com a presença inusitada em seu quarto e saiu correndo chorando para os braços da mãe.
O gavião tentou sair do quarto, mas errou o caminho, meteu a cabeça na porta de vidro e ficou atordoado. Usei uma toalha para captura-lo. Estava visivelmente magro. Brabo feito um siri numa lata quente lá na praia de Tibau, o gavião, num pequeno descuido, apresentou ao meu dedo a sua arma para capturar suas presas. Perfurou fácil e doeu pra caramba.
Precisei de ajuda para ele soltar as garras afiadas dele do meu dedo e também da toalha. Este tipo de ave de rapina eu só tinha tido experiência usando uma boito calibre 28, numa distância razoável e depois do tiro, geralmente não oferecia qualquer resistência. No caso, a valentia do gavião terminou depois que o joguei ao ar e ele sumiu voando rápido.
Antes, ele olhava para mim como se dizendo: solta para ver o estrago que faço na sua fuça. Na fuça ele não teve chances, mas no meu dedo, furou com suas unhas em forma de agulha e tive que ter cuidados para não infeccionar. Sim, o gavião fazia expressões interessantes, ora de desespero e ora de ameaça. E quando pode, num descuido, atacou. Fica aí o alerta, não mexa com a natureza. Por alguma razão, estes pássaros desenvolveram técnicas de sobrevivência.
Já o papacu, coitado, precisava de ajuda. Parecia filhote. Ele estava com ferimento perto da asa direita, possivelmente deixado pelas unhas de agulha do gavião. Quando o peguei na mão, ele não esboçou qualquer reação. Só agonizava. Não aparentava ter forças. O coloquei protegido na área e pouco tempo depois fui ver e o danado estava com os olhos abertos e em pé. Estava reagindo bem ao ferimento, sem qualquer cuidado veterinário.
Relatei o fato no Facebook e os meus vizinhos Bruno e Lisandra rapidamente encontraram tratamento e uma boa morada para o papacu.
Quem souber porque chamam estes pássaros tão belos de papacu escreve aí nos comentários.