29 MAR 2024 | ATUALIZADO 18:35
POLÍTICA
Ivenio Hermes
30/09/2016 19:31
Atualizado
13/12/2018 03:12

A Flor de Lotus na Segurança Pública Potiguar

Insecuritae erga omnes (insegurança para todos)

Insecuritae erga omnes (insegurança para todos)

Em qualquer profissão, a sobrecarga de trabalho periclita a saúde do trabalhador, na profissão policial, esse perigo amplia.

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O operador da segurança pública lida com vidas, a sua, a de seus colegas e a daqueles a quem auxilia, fiscaliza ou interage de qualquer forma. A imposição de jornadas extenuantes de trabalho suscetibiliza tanto o policial quanto a sociedade.

A segurança pública do RN vive à mercê do antigo binômio: viaturas e armamentos, não que esse material não seja necessário, mas porque não são alicerçados pelo treinamento humanizado, pelo reconhecimento justo ao trabalho de homens e mulheres que põem suas vidas em risco cada dia que envergam seus uniformes ou distintivos para trazerem segurança à população.

Os velhos modelos praticados por gestores com vivência de gabinete, não atendem à prática da moderna forma de se fazer segurança pública.

A imposição de alcançar resultados sem as ferramentas adequadas para isso, leva comandantes a tomarem decisões equivocadas. Submetidos a cobrança de uma máquina administrativa que coloca os agentes de segurança numa espécie de processador desumano de resultados para satisfazer a falsa agenda positiva do Estado, bons líderes são colocados na vala comum de um julgamento popular que também os vitimiza.

A Polícia Militar do RN é usada e abusada, sem efetivo, sem planejamento prognóstico para reposição do capital humano, sem o pagamento digno pelas horas extras de trabalho, sem o respeito ao agente que recebe uma promoção apenas em títulos, mas não percebe os proventos.

A segurança pública no RN passou a viver de espasmos onde uma crise antecede uma solução populista e de aparência milagrosa:

  • O caos desencadeado pelas ações do crime organizado serviu à solução paliativa da vinda de tropas militares para fazer uma segurança pública de fachada e para a qual nunca foram treinados;
  • Os agentes de segurança pública reais foram pouco mencionados como os verdadeiros heróis da crise;
  • Novas instalações de bloqueadores justificam 106 homens de uma força nacional que utiliza policiais de estados com os mesmos problemas de efetivo, cobrindo um santo e descobrindo outro;
  • Dezenas de ações midiáticas servem para encobrir a mortandade do ano mais violento em curso no Rio Grande do Norte, e não adianta dizer que é só criminoso que está morrendo, pois, essa afirmação é uma desculpa esfarrapada de um estado inoperante e sem criatividade para criar soluções, que importa modelos falidos e lhes dá a roupagem nova do binômio já citado: viatura e armamento;
  • Sobre armamento, a tolerância zero é incentivada por gestores, supervalorizando esse último item de forma surreal, afinal, o instrumento maior do policial não é a arma, e sim a doutrina e treinamento para usá-la com inteligência e capacidade de antever resultados.

Lembrando um pouco a mitologia grega, conta-se que havia um povo chamado lotófago que se alimentavam de plantas e flores de lótus, cujo o efeito de um narcótico as mantinha na subserviência de sono pacífico e amnésico, e pouco lembravam a realidade. Num episódio da Odisseia de Homero, Ulisses resgata três guerreiros que foram enviados para investigar o fenômeno, mas acabaram por comer da flor. A história apresenta como moral a falta de criatividade do homem que não obtém soluções, mas prefere mergulhar seu povo no irreal, no surreal e na amnésia.

As soluções reativas que o RN recebe mostra a inequívoca falta de diálogo entre o escalão superior da segurança pública, e não se faz aqui referência aos oficiais, é claro, pois certamente seria injustiça dizer que todos os oficiais não se importam com os seus subordinados. Trata-se da transversalidade da segurança, onde policiais militares e civis trabalhem orientados e em paralelismo sustentável e saudável com a sociedade civil organizada e a população.

A população potiguar vive o surreal, alimentada pelo irreal e surreal que surge no caos da falta de segurança, uma segurança que se transformou na insegurança para todos (insecuritae erga omnes), onde todos são convidados a se alimentar da flor de lótus midiática do governo.

Vincit omnia veritas!

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