PAULO CELSO PEREIRA
Da Agência O Globo
A pesquisa Ibope divulgada na noite de ontem mostra que a onda de crescimento de Jair Bolsonaro, iniciada nos dez dias que antecederam o primeiro turno, parece ter chegado ao fim. A queda de dois pontos — no limite da margem de erro — na intenção de votos entre a semana passada e esta foi puxada pelo crescimento de cinco pontos percentuais em sua rejeição — e pela redução no percentual de eleitores que não tinham mais dúvidas em apoiá-lo.
Motivos para o incômodo do eleitorado não faltam. Nos últimos dias, veio a público o vídeo em que Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável e deputado mais votado do país, fala em fechamento do Supremo. Domingo, o próprio candidato a presidente discursou falando em banir ou prender adversários e atacou a “Folha de S.Paulo", após o jornal afirmar que empresas comprariam pacotes de distribuição em massa de mensagens contra o PT, violando a lei eleitoral.
O problema do líder nas pesquisas, no entanto, não se restringe aos arroubos autoritários, mas também à opção por não participar de qualquer debate ou sabatina. Do alto de seu amplo favoritismo, Bolsonaro pede um cheque em branco à população sem dizer o que pretende fazer em praticamente nenhuma área. A cinco dias do pleito, não se sabe, por exemplo, suas propostas objetivas para temas centrais do país como educação, saúde, Previdência, privatizações ou reforma tributária.
Como bem destacou Marcelo Adnet em sua impagável paródia do presidenciável, a mensagem central de Bolsonaro é simples: “Vou mudar isso daí, tá ok?!”. À imagem de novidade, o candidato agregou dois outros elementos que o ajudaram a cair nas graças de parte significativa do eleitorado: o antipetismo e um duro discurso de combate à violência crescente no país.
Apesar das flutuações na sondagem de ontem, ainda é difícil uma virada para Haddad. Do total de eleitores entrevistados, exatamente metade diz que votará no capitão reformado, contra 37% que são favoráveis ao petista. Além disso, a rejeição do ex-prefeito de São Paulo, embora em queda, ainda é elevada — 41%, contra 40% de Bolsonaro. Na última pesquisa Ibope antes do primeiro turno, os índices de rejeição do capitão reformado era de 43% contra 36% do adversário.
A pesquisa não é suficiente para animar o PT, mas deveria ao menos conter o ânimo dos bolsonaristas. Ontem, seu grupo político o recebeu na casa do empresário Paulo Marinho com um churrasco, com direito até a apresentação de músicos tocando violoncelo. Apesar do franco favoritismo, vale a pena não esquecer o velho ditado: “Eleição e mineração, só depois da apuração”.