29 MAR 2024 | ATUALIZADO 18:35
MOSSORÓ
LUIZA GURGEL E BEATRIZ AZEVEDO - DA AGÊNCIA HIPERLAB/UERN
21/11/2019 16:58
Atualizado
21/11/2019 22:42

Quando estudar é mais que um desafio - Matéria Especial HiperLab

No Rio Grande do Norte, o abandono escolar alcançado, em 2018, com taxa de 11,6%, segundo informações da Secretaria de Estado da Educação e Cultura. Muitos desses estudantes saem das salas de aula vislumbrando, principalmente, fontes de renda alternativas para viver.
No Rio Grande do Norte, o abandono escolar alcançado, em 2018, com taxa de 11,6%, segundo informações da Secretaria de Estado da Educação e Cultura. Muitos desses estudantes saem das salas de aula vislumbrando, principalmente, fontes de renda alternativas para viver.
FOTO: LUÍZA GURGEL / AGÊNCIA HIPERLAB

Saulo tinha 17 anos quando decidiu: não dá mais. O tempo parecia curto para tanto trabalho, compromissos em casa, e a sala de aula. Estudante do 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Aída Ramalho Cortez Pereira, em Mossoró — segunda maior cidade do Rio Grande do Norte –, Saulo Freitas Pereira não suportou. A pressa da necessidade fez com que, antes de completar 18 anos, ele deixasse a escola e entrasse numa lista que perturba o Brasil, a da evasão escolar.

O fato dela existir já é motivo de preocupação. No Brasil, o grupo mais afetado pela evasão escolar é o de jovens entre 14 e 17 anos de idade. Nesta faixa etária, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), realizada em 2018, o índice de abandono escolar chega a 11,8%. Isso mesmo. Enquanto você lê esta reportagem, mais de 1,1 milhão de brasileiros que deveriam estar na sala de aula estão fora dela.


Saulo conseguiu recuperar ou recuperar o tempo perdido e recuperar os estudos. Foto: Luíza Gurgel / Agência HiperLAB


Filho de uma dona de casa e um eletricista, Saulo precisou se juntar aos pais no sustento da família. Nessa hora, ficou complicado conciliar trabalho e estudo. Além disso, os mais de seis quilômetros de distância entre sua casa e a escola tornam-se cada dia mais longos e difíceis. O tempo para os estudos deu lugar ao trabalho no posto de lavagem, durante uma semana, e aos sábados e domingos, os R $ 40,00 extras que ganha como instrutor recreativo no resort da cidade ou deixam cada dia mais longe nos livros.

Dados do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) revelam também que a juventude negra é mais afetada pelo abandono escolar. Em 2018, dos 912 milhões de estudantes que abandonaram a escola, 453 milhões eram negros e pardos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que quase a metade dos estudantes negros não concluiu o ensino médio. Entre as estudantes negras, o número é alarmante. Mais de 30% (33%) delas não chegam ao ensino superior. São fatores sociais, culturais, de gênero, de classe, que se subdividem em ramificações profundas, causando outros obstáculos que transformam esses números numa realidade triste.

No Rio Grande do Norte, o abandono escolar alcançado, em 2018, com taxa de 11,6%, segundo informações da Secretaria de Estado da Educação e Cultura. Muitos desses estudantes saem das salas de aula vislumbrando, principalmente, fontes de renda alternativas para viver. Mas nem sempre acontece o esperado, e depois passa a fazer parte da faixa dos "nem-nem": nem estudo nem trabalho. Em 2018, este problema atingiu 27,9% dos jovens com idade entre 15 e 29 anos.

O drama da evasão escolar não vem sozinho. Ele arrasta consigo outro problema da educação brasileira: o analfabetismo. Uma discrepância entre as regiões brasileiras surge nos números. De acordo com o Pnad, enquanto no Sul, o índice de pessoas iletradas é de 3,63%, no Nordeste ele sobe para 14,8%. Esse mesmo indicador registrado, em 2018, que mais de 11 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais não são alfabetizados. Dessas, 3,9% são brancas e 9,1% negras. Em casos de pessoas com mais de 60 anos, este índice chega a 10,3% entre as brancas e 27,5% entre as negras.

No caso de Saulo Freitas Pereira - hoje com 25 anos -, um ano depois, ele percebeu a importância de concluir os estudos e selecionar voltar à sala de aula. O estudante “gostava”, como ele mesmo diz, e, com muito esforço, fez cursinho pré-vestibular, ingressou na Faculdade de Educação Física da Universidade Potiguar e se formou ainda em 2019. Saulo teve a oportunidade de voltar a estudar e consiga finalizar o ensino médio. Sentiu ou gostou do que seria maior como salas de aula, e viu que não tinha o sabor que imaginava. Ele conseguiu recuperar ou perder o tempo, mas nem todo mundo consegue, seja por vontade própria ou necessidade. Como conseqüências, tanto para micro (cada indivíduo) quanto para macro (toda uma sociedade), mas quem sofre tanto quanto vive a realidade de hoje são as próximas mostradas.

OPINIÃO DA REPÓRTER

Por Luíza Gurgel

São com dados reais do presente cenário escolar que podem ser entendidos como situações que antecedem a vida estudantil e outras que ocorreram. É necessário persistir na busca de aprimoramentos no ensino público, para que os jovens vejam-se dentro de uma escola e sintam-se representados e acolhidos por aquele espaço; reconheçam como uma forma de alcançar um ensino superior. Assim, com uma base adequada e uma educação de qualidade, o aluno pode ser estimulado a permanecer na escola e enxergar o ensino como uma escada para alcançar seus sonhos.

Todos esses dados apontam para um denominador comum: uma desigualdade. Num país onde existem lacunas e precariedade na educação básica, o destino de alguns estudantes acaba sendo o mesmo: para a sala de aula. A educação passa a funcionar num efeito dominó. As condições socioeconômicas, geográficas, culturais, raciais e até mesmo, pedagógicas, são elementos dessa desigualdade. Outras situações são geradas a partir delas. Falta de transporte público, necessidade de trabalho ou assédio moral, falta de interesse construído a partir de tantos outros fatores.

O setor educacional no Brasil funciona com base em um efeito dominó, onde a falta de investimentos e recursos básicos nas escolas da rede pública de ensino, e a marginalização desses jovens faz com que o ato de abandonar os estudos seja algo corriqueiro e comum entre eles, e com isso, gera uma probabilidade maior de desigualdade nos municípios, estados e país, e até entre eles únicos. É comum encontrar um jovem com faixa etária de 13 a 25 anos que não queira estudar. Por que essa pessoa sente esse desgosto pelo estudo? O que levou a não ter esse ânimo? Tudo isso deve ser levado em consideração para uma análise do que está sendo equivalente à realidade da educação brasileira


Notas

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