24 ABR 2024 | ATUALIZADO 05:59
MOSSORÓ
WILLIAM ROBSON, especial para o MOSSORÓ HOJE
02/12/2019 11:08
Atualizado
02/12/2019 15:53

Artigo: Consuni se prepara para impedir consulta pública para novo reitor da Ufersa

O edital para novas eleições sequer foi publicado e nem um movimento em torno do pleito se concretiza, além da manifestação dos próprios candidatos.
Há um clima de temor rondando a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e paira sobre a exclusão total da comunidade acadêmica na consulta para a sucessão para a reitoria e vice da instituição.
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Há um clima de temor rondando a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e paira sobre a exclusão total da comunidade acadêmica na consulta para a sucessão para a reitoria e vice da instituição. O edital para novas eleições sequer foi publicado e nem um movimento em torno do pleito se concretiza, além da manifestação dos próprios candidatos.

A rigor, o Conselho Universitário (CONSUNI), uma cúpula de representantes capitaneada pelo reitor, neste caso, o professor José de Arimatéia de Matos, toma as decisões administrativas e políticas da universidade. Isso significa que tudo pode se limitar a uma sala onde duas dezenas de pessoas falam pela maioria, como uma câmara que proíbe plebiscitos. E, embora a deliberação possa ser considerada legítima, há um componente antidemocrático embutido na aura de legalidade.

Em 2016, quando alunos, professores e técnicos indicaram um nome para dirigir a instituição, o então presidente da Comissão de Consulta, Alan Martins, declarou em reportagem publicada no site da Ufersa: "Esse é o momento político mais importante da história de nossa instituição, pois é a primeira vez que a comunidade universitária irá se manifestar paritariamente na indicação à reitoria. Independente do resultado, o legado que essa consulta vai deixar, é o avanço democrático. A paridade é uma realidade, não podemos mais aceitar retrocessos. Só assim, toda comunidade ufersiana sairá ganhando”.

Se for fazer qualquer ponderação sobre pontos desta fala importante, veremos que alguns marcadores podem indicar o retrocesso na universidade federal, onde o seu maior conselho deliberativo manobra para evitar que as eleições deixe a sala de decisões e ganhe o debate acadêmico. Primeiro, a consulta é um avanço democrático, independente do resultado. Segundo a paridade coloca todos os envolvidos em situação de voz ativa, mesmo se tratando de uma consulta. Terceiro, mudar tudo isso significa aceitar retrocessos.

A situação de retrocesso se agrava na Ufersa quando se leva em consideração que, em alguns casos, a lista tríplice não foi respeitada pelo governo Bolsonaro, ou seja, o perdedor alinhado ao presidente levaria vantagem (aparelhamento que já atingiu metade das universidades federais). Entretanto, esta não tem sido a regra cabal quando os integrantes da comunidade acadêmica decidem resistir e manter a eleição mesmo assim. Foi o caso da das listas tríplices na UFRN, UFRJ e Unirio, no Rio de Janeiro, e UFV, em Minas Gerais, onde os primeiros colocados foram nomeados.

Na Ufersa, qualquer tentativa velada do Consuni de excluir a todos do processo de eleição (ou consulta, como queiram!) e decidir por conta própria a lista tríplice a ser enviada ao Ministério da Educação é uma afronta à instituição e acovardamento frente a atual "política" educacional do governo federal. Além disso, afetaria a legitimidade do reitor que poderia ser nomeado, sem o aval do seus pares de Academia. Uma instabilidade estaria implantada. Talvez, a intenção esteja aí em evitar este desgaste. Ou seja, tirar os votos dos alunos, técnicos e docentes e fazerem todos engolir o que, eventualmente, possa vir.

A consulta é uma forma de avanço do debate político interno das instituições, mesmo todos sabendo que pela legislação o reitor e o vice-reitor são nomeados pelo presidente, a partir da avaliação da lista elaborada pelo colegiado composto por professores, técnicos e estudantes. A composição desta lista é feita por todos e referendada pelo conselho, em uma harmonia salutar da instituição. Ao menos três nomes para concorrer à sucessão de Arimatéia já estão a postos, aguardando a chancela dos acadêmicos, ou através de uma lista ilegítima, mas legal, que pode ser arquitetada na sala do conselho.

Quebrar este modelo de consulta, básico nos ambientes democráticos, é aceitar uma intervenção perversa que pode acelerar o processo já presente de degradação da Ufersa e das demais universidades federais. Um verdadeiro ataque à autonomia e ao republicanismo que todos precisariam vigiar e regar, em vez de simplesmente ceder, sobretudo numa cidade que enaltece a resistência. E quem cede a isso é conivente com o futuro sombrio que se descortina, caso todos da universidade permitam conceber.


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