Em um ano traumático para a maior parte das empresas brasileiras, o lucro dos cinco maiores bancos de varejo do país cresceu 11,3%, somando R$ 67,08 bilhões em 2015. Esse ritmo, porém, foi sustentado pelo desempenho dos privados. O resultado de Itaú Unibanco, Santander Brasil e Bradesco avançou a uma taxa média de 15,06% no ano passado. Já o lucro de Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil subiu, em média, 1,56%.
Apesar da alta, os balanços também trouxeram uma série de indícios de que os bancos não sairão imunes da retração econômica. A aposta de analistas é que até mesmo Itaú e Bradesco terão resultados menores neste ano.
Para 2016, os bancos terão de lidar com o aprofundamento de dois problemas que já deram as caras em 2015: a desaceleração do crédito e a escalada das despesas com calotes. Com um cenário de estabilidade ou mesmo de queda da taxa básica de juros pela frente, também fica menor o espaço que os bancos têm para expandir sua margem financeira, um dos principais fatores que impulsionaram o resultado no ano passado.
Ao mesmo tempo, o baixo volume de empréstimos dificulta a expansão das receitas de crédito, enquanto as despesas crescem ditadas pela elevada inflação.
Os resultados dos três últimos meses de 2015 já mostram esse cenário mais difícil. Entre setembro e dezembro, o quinteto lucrou R$ 15,23 bilhões, com uma queda de 5,65% em relação a igual período do ano passado. Também nessa comparação, foram os bancos públicos que puxaram a queda - só o resultado da Caixa no período recuou 64,7%, para R$ 636 milhões.
A queda nos lucros é uma tendência que deve se firmar em 2016, dando fim a um ciclo ininterrupto de alta no resultado dos bancos nos últimos três anos. O Itaú, por exemplo, indicou a analistas que seu lucro pode cair ao redor de 15% em 2016. Em relatório, o Credit Suisse calcula uma queda de 14% no resultado do Bradesco para o mesmo período.
Na contramão, apenas o Santander Brasil espera ser capaz de incrementar seu lucro em moeda local neste ano, afirmou o presidente do banco Sérgio Rial, em entrevista a jornalistas.
Foi o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, quem melhor resumiu os contratempos que aguardam os bancos em 2016. Depois de ponderar que desde 1930 o Brasil não passa por dois anos seguidos de queda na atividade econômica, o executivo que comanda o maior banco privado do país deixou claro que o efeito disso sobre o balanço do Itaú ainda é incerto.
"A gente não conhece bem o que significa [essa queda no PIB] em termos de impacto no mercado de crédito. Então, temos sido realmente bastante cuidadosos", disse, em teleconferência com analistas. "Estamos tendo um ambiente que está chovendo, a gente vai se molhar, não tem como", afirma Setubal.
O fraco desempenho do crédito tem forte correlação com essa deterioração nos resultados. Em 2015, a Caixa foi o único banco a ter crescimento real no estoque de crédito, com 11,95% de avanço. Nos demais, o crédito avançou abaixo da inflação no período. Juntos, o portfólio de crédito dos cinco bancos aumentou 7,07%, para R$ 2,88 trilhões, ajudado pela desvalorização cambial, que aumenta o saldo da carteira em dólar.
As indicações dadas pelos bancos sugerem um crescimento ainda menor em 2016. Entre os privados, o Itaú espera um desempenho que vai de queda de 0,5% no estoque de crédito a crescimento de 4,5%, enquanto o Bradesco prevê avanço entre 1% a 5%. Entre os bancos públicos, o BB espera ver o crédito aumentar entre 3% a 6% e a Caixa de 7% a 11%. "A atividade econômica esfriou a demanda por créditos das empresas e das famílias", afirmou o presidente do Bradesco, Luiz Calor Trabuco.
Se os volumes de crédito crescem pouco, uma fatia cada vez maior da receita das operações tem sido consumida pelo calote. As despesas com provisão para devedores duvidosos dos cinco bancos subiram 27,9% no ano, somando R$ 93,3 bilhões. Em seu balanço, o Bradesco mostrou que o pedaço da margem bruta de crédito destinado para as despesas de provisão saiu de 33% no quarto trimestre de 2014 para 37% no mesmo período de 2015.
O vice-presidente de finanças da Caixa, Marcio Percival, afirmou que a despesa de provisão do banco subiu de 19,8% para 27,7% da receita de crédito.
Com a expectativa de mais um ano de retração econômica, que pode chegar a 5% na visão do Itaú, as instituições projetam um novo aumento nas provisões. No pior cenário, tais despesas podem somar até R$ 43,5 bilhões apenas nos dois maiores bancos privados do país.