Um movimento de dissidentes ganha força nos bastidores e diplomatas espalhados em diferentes partes do mundo se mobilizam contra o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo. Alguns diplomatas ironizaram: "cada vez que chega um telegrama é um 7 x 1 que vivemos". Segundo o colunista Jamil Chade, "nos últimos dias, esse grupo ganhou força, com sinalizações de apoio até mesmo por parte de diplomatas mais conservadores que, antes das eleições, não apoiaram candidatos de esquerda".
Há também muito desalento, segundo o artigo: "Outros pedem apenas mais um copo de aguardente, enquanto grupos se reúnem de forma quase clandestina pelo whatsapp para tentar entender quem é que, de fato, está elaborando a política externa nacional".
Antes de assumir o cargo, Araújo anunciou, por exemplo, que o Brasil se distanciaria do Pacto de Migração. Também foi dele a iniciativa para desconvidar governos estrangeiros para a posse de Bolsonaro, violando inclusive a prática que estabelece que todos os governos com representação diplomática no país devem ser convidados.
Outras iniciativas não bem recebidas por outros chanceleres foi a entrega da Base de Alcântara (MA) aos Estados Unidos - trata-se um espaço para lançamento de foguetes -, a adesão à OTAN e a possível mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, cidade considerada sagrada por judeus e palestinos, que reivindicam o controle da região.
O mais recentes episódio de crise na política externa brasileira veio após o ministro dizer que o nazismo foi um movimento de esquerda, que gerou crítica de historiadores estrangeiros. De acordo com Stefanie Schüler-Springorum, diretora do Centro para Pesquisa sobre Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim, "quando um ministro do Exterior faz esse tipo de afirmação, considero altamente problemático diplomaticamente e um absurdo cientificamente".
O historiador Wulf Kansteiner, da Universidade de Aarhus (Dinamarca) deixa claro que os nazistas jamais seguiram políticas de esquerda. "Ao contrário, propagavam valores da extrema direita, um extremo nacionalismo, um extremo antissemitismo e um extremo racismo. Nenhum especialista sério considera hoje o nazismo de alguma forma um fenômeno de esquerda. Por isso, da perspectiva acadêmica histórica, essa declaração é uma asneira", afirma. Os relatos desses dois estudiosos foram publicados no jornal Folha de S.Paulo.
O chanceler brasileiro também afirmou que em 1964 não houve um golpe no Brasil. "Não considero (a intervenção militar) um golpe. Considero que foi um movimento necessário para que o País realmente não virasse uma ditadura. Não tenho a menor dúvida em relação a isso", defendeu ele em audiência na Câmara no final do mês passado.
Em carta não assinada, diplomatas repudiaram a posição de Ernesto. "Um grupo representativo de diplomatas brasileiros vem manifestar repúdio a declarações do presidente da República e do ministro das Relações Exteriores que relativizam a natureza ilegal, inconstitucional e criminosa do regime de exceção instaurado no Brasil com o golpe de estado de 1964", diz o documento.