Um casal de ex-amigos era fã de Sérgio Moro. Antipetistas ferrenhos, eles repetiam que "o PT destruiu a vida deles", mesmo eles tendo ascendido socialmente nos governos petistas. Até aí, tudo bem. Faz parte do jogo democrático.
Colocaram avatar de Sérgio Moro nas fotos, foram do "Bloco Moronaro", bateram panelas, vestiram-se de CBF "contra a corrupção" e toda a sorte de insanidade a que essa gente se submete em nome de um ódio cego, burro e infundado.
Eles têm uma filha com Síndrome de Down, que ainda é criança. Votaram em Bolsonaro "porque o PT não podia voltar ao poder". Ele é contador e ela lida com produção artística. Ela está sem trabalho desde que o "mito" dela extinguiu o Ministério da Cultura. Na época das eleições, ainda tentei conversar, explicar o risco que eles e todo mundo estavam correndo, caso o "mito" fosse eleito. Mas não quiseram me escutar. Vociferavam ódio e desprezo contra a esquerda o tempo inteiro. Consideravam-se "cidadãos de bem". E acima do bem e do mal. Típica arrogância de Bolsonaristas ignorantes que, pela manhã, votaram num defensor da tortura e, à noite, foram orar para um Jesus que foi torturado.
Hoje, com a Reforma da Previdência, descobriram que, caso morram, a filha não receberá um centavo do Governo. Nada. Sobreviverá de luz, tal como aquela jurada maluca do Silvio Santos, a Flor, que dizia "se alimentar de luz". Tardiamente, a ficha caiu. Ela me ligou esses dias, chorando de soluçar, dizendo que eu tinha razão quando tentei alertá-los do que podia vir por aí. Estão desesperados quanto ao futuro da menina, que é filha única de uma família que também é pequena.
Lamentei o fato pela menina, que em nada tem a ver com a loucura dos pais. E ela, infelizmente, pagará pela burrice de seus genitores. Pagará caro. Mais caro do que a camisa da CBF que eles usaram para defender um projeto de poder que lhes arrancou tudo: emprego, dinheiro, saúde e o futuro da filha.
Por pouco, eu quase sugeri que eles fizessem arminha com as mãos. Mas não o fiz. Não por eles, mas em respeito à filha deles. Respeito esse que eles mesmos não tiveram quando colocaram a ignorância e o ódio de classes acima da razão e do óbvio. Mas esse desespero deles com o futuro da filha não é só arrependimento. É algo um pouco pior, mais pesado, que dificilmente eles se livrarão, quando lembrarem que destruíram o futuro da menina: REMORSO. Este é, certamente, um travesseiro de pedra que vai acompanhar essa família até o fim de seus dias.