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POLÍTICA
Da redação / Com informações do G1 e UOL
10/10/2015 07:26
Atualizado
13/12/2018 23:24

Contas atribuídas a Eduardo Cunha receberam R$ 23,2 mi

Dados suíços mostram caminho do dinheiro. Conta atribuída à mulher de Cunha pagou cartão e curso de inglês e Empresário português aparece como origem da propina a Cunha.
Internet

Documentos enviados pelo Ministério Público Suíco às autoridades brasileiras apontam o caminho do dinheiro supostamente repassado a contas bancárias atribuídas ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e familiares no país europeu.

No total, as supostas contas de Eduardo Cunha na Suíça, indicam as investigações, receberam nos últimos anos depósitos de US$ 4.831.711,44 e 1.311.700 francos suíços, equivalentes a R$ 23,2 milhões, segundo a cotação desta sexta-feira (9).

Os investigadores dizem que os documentos pessoais de Eduardo Cunha enviados pelo MP suíço (cópias de passaporte, comprovantes de endereço no Rio de Janeiro e assinaturas) comprovam que ele era o beneficiário dessas contas.

As investigações indicam que Cunha manteve quatro contas bancárias na Suiça, abertas entre 2007 e 2008. Dessas, duas teriam sido fechadas pelo peemedebista no ano passado, em abril e maio. Neste ano, em depoimento à CPI da Petrobras, ele afirmou que não tem contas no exterior. As outras duas contas, com saldo de 2,4 milhões de francos suiços (cerca de US$ 2,4 milhões ou R$ 9,3 milhões), foram bloqueadas pelo Ministério Público daquele país.

O dinheiro teria sido pago a Cunha como propina por contrato fechado entre a Petrobras e a empresa Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl, em Benin, na Africa. Segundo as investigações, o empresário Idalécio de Oliveira era proprietário de um campo de petróleo em Benin e fez um contrato de US$ 34,5 milhões com a Petrobras para exploração do mesmo.

De acordo com os investigadores, o engenheiro João Augusto Rezende Henriques, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como um dos operadores do PMDB, recebeu em maio de 2011 da Lusitania Petroleum Ltd, cujo titular é Idalécio de Oliveira, US$ 10 milhões como “taxa de sucesso” pelo negócio fechado pela Petrobras em Benin.

Entre maio e junho de 2011, Henriques fez depósitos no valor total de 1,31 milhão de francos suíços (cerca de R$ 5 milhões) para a offshore Orion SP, com conta registrada no banco Julius Baer, na Suíça. Em depoimento a investigadores da Operação Lava Jato no Paraná, Henriques disse que não sabia quem era o destinatário do dinheiro, mas afirmou que fez o depósito a pedido de Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG).

Segundo investigadores com acesso às informações, o titular da Offshore era, à época dos depósitos em 2011, o presidente da Câmara. De acordo com os dados suiços, essa conta foi aberta em 20 de junho de 2008 e encerrada em 23 de abril de 2014.

Por meio da Orion SP, Cunha supostamente transferiu 970,2 mil francos suíços (cerca de R$ 3,7 milhões) e 22,6 mil euros (R$ 96 mil) para a conta de outra offshore registrada em seu nome, a Netherton Invstiments Ltd, no mesmo banco Julius Baer. A conta, aberta em 29 de setembro de 2008, foi bloqueada em 17 de abril, com saldo de 2,32 milhões de francos suíços (o equivalente a R$ 9 milhões).

Em outra operação, Cunha também teria transferido recursos para uma terceira offshore registrada em seu nome, a Triumph SP. Essa conta foi aberta em 3 de maio de 2007 e encerrada em 20 de maio de 2014, dois meses após a deflagração da Operação Lava Jato.

De acordo com as investigações, a Triumph SP também recebeu transferências de outras contas, a maioria no banco Merril Lynch, cujos titulares não foram identificados. As três operações para a conta dessa empresa, segundo a apuração, somam US$ 3,36 milhões (R$ 12,5 milhões).

Segundo os documentos, entre março de 2008 e janeiro de 2014, a Triumph transferiu US$ 1,05 milhões para a conta da mulher de Cunha, Claudia Cordeiro Cruz, também no banco Julius Baer. A suposta conta secreta, aberta em 25 de fevereiro de 2008, foi bloqueada pelas autoridades da Suíça em 17 de abril deste ano. Na ocasião, havia na conta corrente, segundo as investigações, 146,3 mil francos suíços.

Despesas pessoais
Os dados enviados pelo Ministério Público suíço às autoridades brasileiras indicam que a mulher de Eduardo Cunha, Claudia Cordeiro Cruz, usou parte do dinheiro transferido às supostas contas da família no país europeu com o pagamento de despesas feitas por cartão de crédito que somam US$ 841 mil (R$ 3,1 milhões na cotação atual) entre os anos de 2008 e 2015.

Além disso, segundo as investigações, o dinheiro supostamente obtido em propina, após o contrato entre a Petrobras e o campo de petróleo, em Benin -- que irrigou mais tarde contas de offshore em nome de Cunha e familiares --, pagou um curso de inglês na Malvern College, na Inglaterra, no valor de US$ 8 mil, e a academia de Nick Bollettieri, uma das principais formadoras de tenistas no mundo, com US$ 59 mil.

Se confirmados pelos investigadores brasileiros, o pagamento dos cartões de crédito comprovam as movimentações nas supostas contas de Cunha neste ano, conforme revelou o Blog na semana passada. Os investigadores irão trabalhar intensamente nas próximas semanas nesses dados.

Empresário português aparece como origem da propina a Cunha
Desconhecido em seu país de origem, mas com bom trânsito na África, o empresário português Idalécio de Oliveira aparece como a origem da propina repassada ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ele é o dono da Lusitânia Group, controladora da Compagnie Béninoise des Hydrocarbures (CBH), que foi parceira da Petrobras na exploração de campo de petróleo em Benin.

Oliveira ocupou cargo de direção na petroleira Chariot, que tinha operações na Namíbia, antes de partir em voo solo, buscando oportunidades de negócios para atrair o capital de grandes petroleiras.

Seu staff conta com um ex-executivo da Petrobras, o geólogo Ricardo Sanchez

A aventura da Petrobras em Benin durou apenas quatro anos.

A estreia da estatal no país africano foi comunicada ao mercado em 2011, a partir da aquisição de 50% do bloco exploratório número 4, como parte de uma estratégia "de buscar oportunidades em águas profundas e ultraprofundas na região", conforme nota divulgada na ocasião.

A operação foi feita com a CBH, controlada pela Lusitânia Group, que apresenta em sua página na internet apenas dois projetos: o bloco 4 de Benin e a exploração de minério em Carajás, no Pará.

Depois da Petrobras, a Shell foi atraída para o negócio, comprando uma fatia de 35% (20% da CBH e 15% da Petrobras).

O consórcio chegou a perfurar um poço na área, encontrando indícios da existência petróleo, segundo comunicados do governo local. Mas, em julho deste ano, Petrobras e Shell abandonaram o projeto.

Não há informações oficiais sobre os valores investidos pelos sócios nem sobre os resultados da atividade exploratória. A Folha apurou que não foram encontradas reservas comerciais.

A reportagem tentou contato com a Lusitânia, mas não obteve resposta. Procurada, a Petrobras não se pronunciou sobre o assunto.

No ano passado, a companhia vendeu 25% de suas operações na África para o banco BTG Pactual, por US$ 1,5 bilhão.

Notas

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