A diretora do Hospital Maternidade Almeida Castro, Larizza Queiroz, localizado em Mossoró, concedeu uma entrevista, nesta quarta-feira (3), à SuperTV, na qual destacou o aumento no número de gestantes que chegam à maternidade com quadros de sífilis e infecção urinária.
De acordo com a gestora (interventora judicial), essas doenças são alguns dos principais fatores que contribuem para o aumento no número de nascimentos prematuros e com baixo peso e, consequentemente, ocasiona a mortalidade neonatal e de gestantes.
Devido aos nascimentos prematuros e de baixo peso, a taxa de ocupação dos 17 leitos de UTI neonatal, 13 de Berçário e 18 de Canguru é de quase 100%, com bebês que vêm de todos os municípios do Oeste do RN, parte do Ceará e até da Paraíba.
De acordo com o boletim epidemiológico mais recente da sífilis, divulgado pelo Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, foram registrados 416 casos de grávidas com sífilis no Rio Grande do Norte, o que resultou em 9 casos de bebês com sífilis congênita para cada mil bebês nascidos vivos no estado, um número considerado alto.
“Nos últimos anos a gente vem percebendo um aumento das DSTs em mães, isso já vem sendo estudado pelo Ministério da Saúde. As pessoas estão deixando de usar camisinha, de fazer sexo seguro e, com isso, vai ocasionar bebês com sífilis congênita e isso vai ocasionar uma série de problemas nesses bebês no futuro”, explicou Larizza Queiroz.
Essas doenças, que poderiam ser facilmente tratadas com um bom pré-natal, têm lotado os 50 leitos de internação de alto risco (17 de uti Neonatal, 13 leitos de Berçário e 18 leitos de Canguru) para bebês no Hospital Maternidade Almeida Castro.
“O pré-natal é de fundamental importância para que você tenha um bebê saudável até o final da gestação. O que está acontecendo é que muitas mães, por dificuldades em seus municípios, não estão fazendo um pré-natal adequado e isso ocasiona inúmeras situações, entre elas, a infecção gestacional. Essa infecção faz com que o bebê possa nascer prematuro, o que pode ocasionar uma mortalidade neonatal, bem como aumenta os índices de mortalidade materna”, explica Larizza Queiroz, chamando atenção para este ponto.
O pré-natal citado pela gestora é um direito básico da população e deveria ser realizado nos postos de saúde do município. Devido à falta de condições de fazer um pré-natal bem feito a partir da atenção básica nos municípios, onde essas gestantes possam acompanhar o desenvolvimento e tratar as doenças nos estágios iniciais, tem aumentado assustadoramente o número de bebês nascido prematuros.
Larizza conta que como essas mães não conseguem um atendimento eficiente em suas cidades, elas vêm para maternidade em Mossoró e são atendidas no setor de Gestação de Alto Risco (GAR). Ela explica que algumas gestantes chegam a ficar de 3 a 4 meses dentro da maternidade, aguardando o nascimento, fortalecimento e ganho de peso do bebê, situação que poderia ser evitada com um simples investimento na atenção básica dos municípios.
O GAR está com 30 mulheres internadas, se tratando de algum tipo de infecção ou sendo acompanhada para não perder o bebê. Quando o bebê nasce, geralmente prematuro, fica na UTI, Berçário ou Canguru, e a mãe fica hospedada na Maternidade Almeida Castro num setor chamado Mãe Curuja Edilene Torquato. Estes dois setores estão lotados.
DADOS DA ALMEIDA CASTRO
Nos primeiros 5 meses de 2019 a maternidade registrou o nascimento de 258 bebês prematuros e 166 com baixo peso. Ao todo, foram 2.990 nascimentos.
Em 2018 foram 991 nascimentos prematuros e 726 com baixo peso, de um total de 6.819 nascimentos.
Já em 2017 os dados mostram 958 nascidos prematuros e 693 com baixo peso, de um total de 6.283 nascimentos.
Todos os bebês que nascem prematuros ou com baixo peso precisam da atenção da UTI neonatal, berçário e Canguru, onde chegam a passar meses recebendo cuidados médicos específicos para ganhar peso, se fortalecerem e irem para suas casas.
No caso de gemelares, o internamento acontece no Berçário e no setor Canguru. Foram 41 casos de gemelares nos 5 primeiros meses de 2019, 76 em 2018 e 74 em 2019.
Obs: taxa de ocupação da UTI neonatal, Berçário e Canguru é quase sempre na casa de 100%.