29 MAR 2024 | ATUALIZADO 18:35
ESTADO
Cezar Alves com informações de Higor Mateus Ribeiro
28/06/2020 19:43
Atualizado
29/06/2020 16:06

Seu Febrônio, do Encanto-RN, e seus 109 anos de história

Seu Febrônio foi agricultor, marceneiro, estava em Marcelino Vieira no dia 10 de junho de 1927 quando Lampião passou para invadir Mossoró, lutou na Guerra de São Paulo na Década de 30 e, ao 109 anos completados agora o dia 23 de junho diz que não tem medo do novo coronavirus
Seu Febrônio foi agricultor, marceneiro, estava em Marcelino Vieira no dia 10 de junho de 1927 quando Lampião passou para invadir Mossoró, lutou na Guerra de São Paulo na Década de 30 e, ao 109 anos completados agora o dia 23 de junho diz que não tem medo do novo coronavirus

Gosta de contar história e ir à missa aos domingos. Mas isto antes da pandemia. Com a ameaça real do novo coronavírus nas ruas, tudo mudou para Seu Febrônio Leandro da Silva, nascido no dia 23 de junho de 1911 no Sítio Talhado, no município de Marcelino Vieira-RN.  

Atualmente reside na cidade de Encanto-RN.

A casa cheia de antes da pandemia, que tanto Seu Febrônio gostava, não pode mais. Agora fica na área da casa observando quem passa na rua. Vez e outra algumas pessoas param cumprimenta-lo e para ouvir as histórias da época do cangaço a era da internet.

São 109 anos de histórias, que inclui a época da primeira grande guerra mundial, de 1914 a 1918, que deixou 22 milhões de mortes; e a gripe espanhola (pandemia que começou nos Estados Unidos), que tirou a vida de 50 milhões de 1918 a 1920.

Seu Febrônio lembra quando os 62 homens do bando de Lampião passaram pela região onde hoje é Marcelino Vieira, com destino a cidade de Mossoró, onde seria posto para correr. Isto foi o dia 10 de junho de 1927.

Seu Febrônio conhece bem a história do soldado José Monteiro de Matos que encarou os cangaceiros, conseguindo matar o cangaceiro Patrício de Sousa, o Azulão, porém terminou morto, no confronto que ficou conhecido como “Fogo de Caiçara”.

Veja mais AQUI.

Seu Febrônio sobreviveu também a crise econômica (quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929), seguida de uma seca terrível nos anos trinta no Nordeste. Estes 2 fatores contribuíram para a morte de milhares no Brasil. Foi o período que Getúlio Vargas chegou ao poder.

Neste período, Seu Febrônio, narra que esteve na Guerra de São Paulo, quando o confronto com as forças de Getúlio Vargas deixou cerca de mil mortos e mais ou menos 5 mil feridos na capital paulista. A cidade ficou destruída com o bombardeio desordenado.


Em 1933, o nazismo assumiu o poder na Alemanha e 6 anos depois dá início a segunda grande guerra mundial, que deixou 60 milhões de mortos no período de 1939 a 1945. Seu Febrônio assistiu Getúlio Vargas assumir o poder no voto e depois dá o golpe em 1937.

Também acompanhou de perto a queda do Estado Novo em 1945, quando as Foras Armadas retiraram Getúlio Vargas do poder. Viu Juscelino Kubistchek assumir o governo brasileiro e construir Brasília (DR), de 1956 a 1960. Era uma época que poucos sabiam ler e escrever.

Em 1964 teve início a guerra do Viatnã, que foi até 1973. Estima-se em 3 milhões e mortos. Também em 1964, Seu Febrônio Leandro assistiu os militares chegarem ao poder, para quatro anos depois decretar o AI 5, deixando o regime duro para os brasileiros até 1985

Os militares deixaram o poder para Tancredo Neves, que viria a morrer dias depois. José Sarney assumiu o governo brasileiro e a Ulisses Guimarães o Congresso Nacional, tendo promulgado a Constituição Federal em outubro de 1988.

Vieram os governos Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer e agora de Bolsonaro e seu Febrônio firme e forte, contando histórias, nos dias atuais sempre com os cuidados da filha, a professora Auxiliadora Araújo, que regula a alimentação.


Dona Auxiliadora Araújo é quem conta parte da história de Seu Febronio, que hoje, aos 109 anos, já tem dificuldades de andar na cidade de Encanto, onde mora no Alto Oeste do Rio Grande do Norte. O centenário diz aos filhos que não tem medo do novo coronavirus.

Seu Febrônio é o filho mais velho dos cinco filhos de João Leandro da Silva e Januária Maria da Conceição. Casado com Arcelina Araújo da Silva com quem teve 9 filhos, 4 vivos. Dados de 2019, mostram que tem 26 netos, 51 bisnetos 15 tetranetos.

Além de agricultor e marceneiro, também gostava de caçar aves, veado, onça o que havia de caça naquela época na mata do Alto Oeste Potiguar. Pescava também. “Muito católico, até hoje Seu Febrônio assiste as missas pela TV e celular”, narra Dona Auxiliadora Araújo.

Homem de vida simples: ao acordar, toma banho com água quente, que ele mesmo regula a temperatura. “É um pouco vaidoso, abro o guarda roupa e ele escolhe roupa que quer vestir, gosta de perfume forte, talco, shampoo, hidratante, lençinhos da Johnson”, diz Auxiliadora.

Alimentação

A primeira refeição do dia é um ovo cozido, xícara de mingau, um pedaço de bolo e chá de 7:30 horas até 8:00 horas. Gosta de frutas principalmente a banana e mamão, laranja etc.

O almoço verduras cenoura, batatinha, beterraba, jerimu, chuchu, cheio verdade entre outros. Carne de boi moída cozida, arroz, feijão, macarrão. “Passo um pouco de tudo no liquidificar, faz uns dois meses que virou meu bebê”, diz a filha.

Às 15:00 horas ele faz um lanche. Gosta de doces, papa é a janta é sempre às 20 horas. “Horário de dormir durante o dia e a noite não é certo enquanto tiver com quem conversar tudo bem. Gosta de casa cheia de gente e de servir comidas e bebidas”, acrescenta.

Seu Febrônio não usa máscara. Diz que sente falta de fôlego. Diz aos filhos que não vai morrer de covid19, mas de velho e ou de outra doença.


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