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NACIONAL
COM INFORMAÇÕES DO BLOG DA ANDRÉIA SADI E DO JORNAL NACIONAL
19/01/2021 12:25
Atualizado
19/01/2021 13:50

Ataques do governo Bolsonaro à China podem atrapalhar produção de vacinas

O princípio ativo para produção das vacinas do Butantan e da Fiocruz vem da China e o segundo carregamento de IFA está parado no país, sem previsão de quanto será enviado ao Brasil. O temor é que, sem o insumo, as doses de Coronavac acabem no final de janeiro, quando termina o estoque disponível. O Brasil depende da China para ampliar a produção nacional da vacina, mas foram muitos os ataques do governo brasileiro e da família Bolsonaro ao governo chinês. Relembre.
Ataques do governo Bolsonaro à China podem atrapalhar produção de vacinas. O princípio ativo para produção das vacinas do Butantan e da Fiocruz vem da China e o segundo carregamento de IFA está parado no país, sem previsão de quanto será enviado ao Brasil. O temor é que, sem o insumo, as doses de Coronavac acabem no final de janeiro, quando termina o estoque disponível. O Brasil depende da China para ampliar a produção nacional da vacina, mas foram muitos os ataques do governo brasileiro e da família Bolsonaro ao governo chinês. Relembre.
FOTO: REPRODUÇÃO

O governo Bolsonaro está às voltas desde esta segunda (18) com a falta de informação da China a respeito do prazo para envio do IFA, o princípio ativo da vacina do Instituto Butantan, fabricada em parceria com a chinesa Sinovac.

O temor é que, sem o insumo, as doses de Coronavac acabem no final de janeiro, quando termina o estoque disponível.

No governo federal, estão em contato com a China o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

No entanto, por conta da postura bélica e dos ataques do chanceler à China - em sintonia com a família Bolsonaro-, assessores presidenciais temem que Ernesto não obtenha informações precisas sobre o prazo da entrega dos insumos antes do término do estoque disponível: fim de janeiro.

Por isso, há uma discussão entre auxiliares presidenciais sobre se não seria o caso de o próprio presidente Bolsonaro contatar o presidente chinês.

Outro cenário em debate, nos bastidores, é montar uma força-tarefa com ministros com boa relação diplomática com a China, como a ministra Tereza Cristina (Agricultura), e até o vice-presidente, Hamilton Mourão.

O impasse em relação a Mourão, admitem governistas, seria a liberação de Bolsonaro para que o vice tenha protagonismo numa questão dessa magnitude.

Ao blog da Andréia Sadi, Mourão disse que está à disposição para contatar a China e ajudar na questão dos insumos, já que tem boa relação com o vice-presidente chinês.

Perguntado se ele já havia feito contato com alguém da diplomacia chinesa para ajudar na questão dos insumos, ele respondeu:

“Por enquanto não falei, mas estou disponível, estou pronto. Tenho falado com o vice-presidente chinês ( Wang Qishan), ele me desejou melhoras durante o meu período da Covid-19 e estamos em permanente contato”.

Um ministro do governo defendeu ao blog que até o ex-presidente Michel Temer seja chamado a ajudar na relação com a China, já que ele mantém contatos diplomáticos com o país.

O debate sobre alternativas de interlocução está posto nos bastidores já que a solução óbvia seria trocar o ministro responsável por relações diplomáticas, mas demitir Ernesto não está nos planos de Bolsonaro. Assim como Pazuello, a permanência de Ernesto Araujo é garantida pelo presidente Bolsonaro.

MATÉRIA-PRIMA PARA VACINAS DO BUTANTAN E DA FIOCRUZ VEM DA CHINA

No Butantan, a matéria-prima acabou. O segundo carregamento de IFA está parado na China. Segundo Dimas Covas, o instituto tem capacidade de produzir um milhão de doses por dia.

Em entrevista nesta segunda-feira (18) à Globo News ele ressaltou a importância da parceria com a China e disse que está negociando a liberação da matéria-prima.

"Estamos nessa expectativa, em contato constante com as autoridades chinesas, seja através da nossa embaixada da China no Brasil, seja através de nossos representantes lá na China e, enfim, da própria Sinovac. Existe uma certa dificuldade na liberação, mas esperamos que isso seja resolvido ainda esta semana. Com a demonstração da eficácia e o registro, o Brasil passa a ser o maior parceiro da Sinovac no mundo, e passa a ser também, neste momento, o maior parceiro da China, em termos de vacina", disse Dimas Covas.

A Fiocruz também está à espera da liberação do IFA pelo governo chinês. “Não, o cronograma ainda não está furado porque o prazo de cronograma estabelecido pela Fiocruz é o recebimento do IFA ainda durante o mês de janeiro. Uma vez o IFA chegando, a linha de produção de BioManguinhos está completamente pronta. Absolutamente indispensável. Sem a matéria-prima da vacina, nós não podemos... De nada adianta ter o resto - envase, controle de qualidade, enfim, condensadores prontos -, se nós não tivermos a matéria-prima, que é o insumo farmacêutico ativo”, explica Margareth Dalcomo.

O Brasil depende da China para ampliar a produção nacional da vacina, mas foram muitos os ataques do governo brasileiro e da família Bolsonaro ao governo chinês.

Em março de 2020, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), fez uma insinuação sobre o fato de o coronavírus ter aparecido primeiro na China.

Postou em rede social: "Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez, uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução."

Depois, ainda compartilhou postagens culpando o governo chinês pela pandemia. O embaixador da China no Brasil Yang Wanming repudiou as palavras do deputado também em uma rede social.

O ex-ministro da educação, Abraham Weintraub, sugeriu, sem provas, que a China poderia se beneficiar da crise mundial causada pela Covid. Usou o jeito de falar do personagem 'Cebolinha' da Turma da Mônica, que troca o 'L' pelo 'R' para ironizar o sotaque chinês.

Depois da reação negativa da embaixada chinesa, ele apagou as postagem. Por causa disso, é alvo de um inquérito na Justiça Federal pelo crime de racismo.

Em outubro, em entrevista, o presidente Jair Bolsonaro disse que faltava credibilidade à CoronaVac, vacina produzida na China.

Ele disse: "A da China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como dizem, esse vírus teria nascido lá."

Em novembro, Eduardo Bolsonaro provocou a China novamente, desta vez, sobre as negociações para rede 5G de internet móvel.

A embaixada da China respondeu dizendo que, se o deputado e outras personalidades não parassem de produzir declarações infames, teriam que arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China/Brasil.

Na época, o Itamaraty não reprovou as declarações de Eduardo Bolsonaro. O ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, inclusive, enviou uma carta à embaixada da China reclamando do que considerou um conteúdo 'ofensivo e desrespeitoso' da resposta dada ao deputado.

Nesta segunda-feira (18), em entrevista coletiva, o governador de São Paulo, João Doria, criticou o tom adotado pelo governo Bolsonaro em relação à China. Lembrou que o Brasil depende do país para conseguir produzir as duas únicas vacinas autorizadas pela Anvisa.

“Se o presidente Jair Bolsonaro parar de falar mal da China e seus filhos pararem de falar mal da China, isso já ajuda bastante. Pois, os insumos da vacina da AstraZeneca são produzidos na China. Os insumos da vacina do Butantan são produzidos na China. E são as duas únicas vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. Pelo menos se não atrapalhar, já é uma ajuda”.


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