28 MAR 2024 | ATUALIZADO 13:02
EDUCAÇÃO
ANNA PAULA BRITO
27/04/2021 17:31
Atualizado
28/04/2021 08:20

“Quero mudar vidas e servir de inspiração", diz Leidjane Alves, do sítio Areias

Nascida e criada no sítio Areias, zona rural de Pau dos Ferros, a jovem de 21 anos hoje cursa o 2º período de medicina na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). Filha de um agricultor e de uma faxineira, ela conta que percorreu um longo caminho e contou com muita ajuda dos pais, amigos e professores para chegar à universidade. Entre os sonhos para o futuro, está voltar para a sua cidade e ajudar jovens de famílias humildes como a dela, mostrando que a educação é o único caminho para o sucesso.
“Quero mudar vidas e servir de inspiração", diz Leidjane Alves, do sítio Areias. Nascida e criada zona rural de Pau dos Ferros, a jovem de 21 anos hoje cursa o 2º período de medicina na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). Filha de um agricultor e de uma faxineira, ela conta que percorreu um longo caminho e contou com muita ajuda dos pais, amigos e professores para chegar à universidade. Entre os sonhos para o futuro, está voltar para a sua cidade e ajudar jovens de famílias humildes como a dela, mostrando que a educação é o único caminho para o sucesso.
FOTO: CEIDIDA

De origem humilde, nascida e criada no Sítio Areias, na zona rural de Pau dos Ferros/RN, Leidjane Alves de Souza, de 21 anos, criou asas e voou longe em busca dos seus sonhos.

Filha do agricultor Joesio Araújo de Souza e da faxineira Eugênia Maria Alves Leite Araújo, a jovem está cursando o segundo período de Medicina na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL).

Chegar lá não foi uma tarefa fácil. O percurso foi longo e árduo. Leid, como é conhecida entre os amigos, contou à reportagem do MOSSORÓ HOJE que teve muita ajuda ao longo do caminho para chegar onde está.

O início dos sonhos de Leidjane Alves foi aos 3 anos de idade, quando ela começou a estudar, em um escolinha localizada ali mesmo, no sítio Areias. Aos 7 anos teve ir estudar na zona urbana de Pau dos Ferros, visto que a escola da comunidade havia fechado.

Ela diz que todos os dias acordava às 5h da manhã para pegar um pau-de-arara que levava as crianças do sítio ao centro. O retorno era ao meio-dia. “Era cansativo, mas eu amava de verdade estudar, sem nenhuma romantização”, diz.

Aos 9 anos ela chegou para os pais e disse que queria estudar para se formar em uma universidade. “Daí meus pais disseram assim: então se você quer isso, infelizmente a gente não tem condições de te manter em uma capital. Trabalhe e junte algum dinheiro pra te ajudar no futuro”. E assim ela fez.

Conta que estudava a semana toda e aos sábados trabalhava em uma loja de calçados, de uma tia, onde ganhava R$10 por sábado. “Não gastava 1 real, pensando justamente que tinha um futuro me esperando”, diz.

Leid enfatiza, no entanto, que os pais sempre fizeram tudo que puderam para apoiá-la quando se tratava de educação, chegaram a vender coisas que tinham em casa para que ele pudesse ter internet para estudar, por exemplo.

“Aqui no meu sítio nem internet pegava. Meus pais, então, foram vendendo coisas que eles tinham para comprar um notebook e colocar internet aqui por meio de um modem. Desde criança eu sabia claramente o que queria da vida: estudar. E eles investiram em mim. Meu pai me apoiava em tudo, tirava o que tinha e o que não tinha pra me proporcionar isso”, conta.

Sempre dedicada, aos 16 anos Leidjane Alves passou para o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Foi quando o sonho de entrar em uma universidade começou a ganhar forma. Nessa época ela precisou mudar definitivamente para a zona urbana da cidade, visto que o horário do carro que levava os estudantes dos sítios para a cidade não eram os mesmo das aulas do IF.

No mesmo período, Leid também deixou o trabalho na sapataria da tia e passou a ganhar um um auxílio de permanência estudantil, concedido pelo instituto a jovens de baixa renda.

“Morei inicialmente com uma tia, mas não deu certo. Daí quando sai da casa da minha tia eu tinha 17 anos. Dividi apartamento com minha namorada e mais outros 2 estudantes. Depois esses estudantes foram desistindo, outros se mudaram, até que restou só nós duas. Quando estávamos numa situação de aperto, pois não podíamos pagar um apartamento só nós duas, foi quando nossos amigos professores chamaram pra gente dividir uma casa, já que eles só passavam 3 dias na cidade e depois voltavam pras suas residências fixas que era em outro estado”, explica.

Assim foi durante os 4 anos de curso no IF, onde se formou como técnica em alimentos. No último ano, Leid conta que estudava pela manhã e à tarde era bolsista da instituição. Ela explica que percebeu que se queria passar em medicina ia precisar dedicar mais tempo aos estudo.

Foi aí que surgiu o dilema, visto que ela teria que abdicar da bolsa, na época no valor de R$ 300, única renda que ela tinha, para estudar para o Enem. Neste momento, um dos professores e orientador dela se propôs a ajudá-la.

“Esse meu orientador era como um pai pra mim, então eu falei pra ele que estava pensando em fazer isso [abdicar da bolsa para estudar] e ele disse: faça isso, vá estudar, saia do programa de bolsa, que o valor que você ganha eu vou lhe dar todo mês pra você estudar. Eu fiquei morta de feliz e eu sabia que ele cumpriria com a palavra", contou.

Leid explica que não vai expor o nome do orientador pelo fato de ele ser uma pessoa que gosta de fazer o bem sem querer nada em troca e nem exposição, mas diz que é extremamente grata por tudo que ele fez e vem fazendo por ela até hoje.


A APROVAÇÃO

Leid e a namorada, Aparecida Joziani, na cerimônia do jaleco.

Em 2018, seu último ano de ensino médio, apesar de todo o esforço, Leid não conseguiu a aprovação no Enem. Mas ela não desanimou. Em 2019, seguiu estudando em busca do objetivo.

“Esse meu amigo e orientador disse que ia continuar me ajudando e que isso iria continuar até o dia que eu passasse ou que ele não tivesse mais condição de me ajudar e assim ele fez. Em 2019 eu não fiz mais nada, apenas usei todo o meu tempo pra estudar pro Enem, o que foi muito importante”, conta ela.

Leid explica que tentou o Enem mais uma vez e a aprovação não veio. Mas em janeiro de 2020 a UNCISAL realizou um vestibular e ela foi aprovada. Hoje ela está no segundo período do curso.


DIFICULDADES

A jovem conta que quando percebeu que teria uma chance de aprovação e que, se isso acontecesse, ela teria que mudar de estado. Começou a se preocupar em como chegaria lá e como se manteria em Maceió.

Nesse momento, ela e a namorada, Aparecida Joziani Silva Fonseca, começaram a produzir chocolates para vender. Elas trabalhavam na produção durante a madrugada e saíam para vender durante o dia, assim, conseguiam juntar dinheiro, que somado a ajuda dada por amigos e professores, foi suficiente para comprarem as passagens e seguirem rumo a Alagoas.

Leid conta que o começou foi difícil e que as duas passaram aperto, visto que os pais de ambas não tinham condições financeiras de ajudá-las. Agora, ela conseguiu um auxílio permanência estudantil e um trabalhar de freelancer em uma empresa de marketing digital para médicos, onde escreve textos para divulgação.

A namorada de Leid, Aparecida Joziani, mora com ela atualmente e também sonha em cursar medicina. Ela ainda não foi aprovada, mas segue estudando e se dedicando para com a o paio de Leid.


SONHOS

Leid e os pais na formatura do IFRN.

Leid conta que ainda há muitos sonhos a serem concretizados e que o maior deles é um dia fazer a diferença na vida dos jovens do pequeno sítio Areias.

“Tenho um sonho enormeeeee de apoiar as pessoas do sítio. Essa ajuda que eu quero fornecer é por meio da oportunidade à educação para os jovens da zona rural. Quero que cada jovem cresça sabendo que a roça não é o único caminho. Quero ser inspiração. Quero que os pais olhem pros seus filhos e digam assim: ‘meu filho, eu te apoio nos seus sonhos. Lembra daquela menina que é da zona rural e é hoje médica? Se inspire nela, você também é capaz’. É isso que eu quero. Quero que eles tenham pelo menos o direito de sonhar. Muitos nem isso têm”, diz a jovem.

Leid conta que assim como foi ajudada pelo professor, tem o sonho de poder, um dia, oferecer um auxílio a jovens de baixa renda, para que eles possam se dedicar aos estudos, sem precisar trabalhar. “Quero ajudar a quem sonha como eu sonhei, do mesmo jeito que algumas pessoas me ajudaram e ajudam até hoje”.

Sobre a família, a jovem diz que sonha em dar a ele tudo o que sonharem na vida. “Meus pais já trabalharam muito e já sofreram muita humilhação. Eu sei que o caminho até eu me formar é longo, mas quando eu chegar lá eles poderão ter tudo o que sonharam na vida. A minha mãe é a pessoa mais guerreira que eu conheço. Ela sonha em ter uma casinha bonita com as suas coisinhas arrumadas. Isso só eu poderei proporcionar pra ela. Meus pais são as coisas mais importantes que existem na minha vida”.

Leid também usa as redes sociais dela, no @leid_fazmed, para inspirar jovens. Segundo ela, ouviu muitas histórias bacanas de pessoas que lhe motivaram a nunca desistir. “Esse é um projeto pessoal que eu pretendo levar pra frente, pretendo que meu insta cresça, porque existem milhares de jovens com a história semelhante a minha. Quando eu via na TV essas histórias, isso me dava força. Acho que chegou a minha vez de ser força pra essas pessoas também, concluiu.


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